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Com a presença de alguns moradores de rua, espetáculo causou desconforto em alguns espectadores. | Divulgação/
Com a presença de alguns moradores de rua, espetáculo causou desconforto em alguns espectadores.| Foto: Divulgação/

Uma das estreias do Festival de Curitiba, o espetáculo SPon SPoff SPend conseguiu causar o desconforto a que se propôs ontem no Teatro Bom Jesus. A peça da Companhia Maracujá é uma fábula sobre um grupo de mendigos que vive embaixo de um viaduto em São Paulo. Alcoolismo, loucura, violência e desesperança estão cotidiano da grande noite suja de um povo que vive na margem invisível da sociedade. Uma ótima ideia inicial de um texto cuja grande sacada é apresentar uma impensável microfísica de poder no pequeno mundo dos mendigos.

Mesmo nas condições mais precárias possíveis, o tecido social do grupo de sem tetos repete a estrutura da sociedade brasileira. Nas relações de poder prevalecem as máximas capitalistas impostas pela violência. Uma ideia ótima e perturbadora. O espetáculo, no entanto, ficará marcado pela inusitada e controversa experiência de levar alguns mendigos “reais” de Curitiba para assistir à peça. Sem querer entrar na discussão sociológica e estética e da validade da experiência, a iniciativa tornou real o desconforto – da pena ao ódio – que a presença deste estrato social normalmente causa nos “seres de luz”, como o texto da peça se refere à sociedade do asfalto. O problema principal é que o alarido da insólita plateia parece ter atrapalhado também algumas das atuações do heterogêneo elenco da peça.

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O espetáculo é a primeira montagem adulta do grupo e pode, certamente, amadurecer. SPon SPoff SPend pecou pelo excesso em sua primeira aparição pública. A peça é quase um musical com algumas canções e intervenções sonora muito boas e outras nem tanto. Não dá para deixar de reparar que a banda formada pelos mendigos lembra grupos hipsters que tentam usar esta estética (como Gogol Bordello). Há também metalinguagem: um vídeo está sendo filmado por uma afetada equipe de cinema, e as imagens se misturam com a peça. A montagem atira para muitos lados usando linguagens demais, nem sempre bem resolvidas.

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