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*Tayná de Campos Soares, estudante do 4º ano de Jornalismo da Universidade Postivo

O diferencial da estreia da peça SPon SPoff Spend estava na plateia. O teatro Bom Jesus recebeu, na noite de quarta-feira (26), não apenas pessoas acostumadas a assistir espetáculos teatrais. Entre os espectadores estavam também 14 moradores de rua curitibanos, que foram prestigiar a apresentação que tratava sobre o universo dos mendigos.

Ao chegar no teatro, os moradores de rua ocuparam as duas primeiras fileiras. Parte do público que estava nas cadeiras próximas acabou trocando de lugar. Quem levou os homens ao teatro foi a estudante de Artes Cênicas da FAP, Julia de Campos Moura, junto com um grupo de amigos. A ideia de levar os moradores de rua ao teatro surgiu com a leitura do livro “O caos”. O autor Hakin Bey defende que “em potencial, todos nós somos algum tipo de artista”.

Julia quis descobrir a potência artística dos moradores de rua e entrou em contato com a produção do Festival de Curitiba para conseguir acesso gratuito ao espetáculo, que faz parte da mostra principal. “Quando a organização liberou os ingressos eu conversei com alguns amigos e então bolamos a ideia de encontrar pessoas que moram na rua e convidá-los para assistir à peça conosco”, conta.

Cerca de três horas antes da peça, os jovens percorreram o centro de Curitiba em busca de atrás de moradores de ruas que topassem participar. “Quando chegamos ai teatro, percebi que muitas pessoas não gostaram do fato deles estarem lá. Acho que as pessoas pensam que apenas ricos e pessoas bem vestidas podem ir ao teatro, o que não é verdade”, afirma Julia.

Interação

Durante a peça, que durou cerca de 70 minutos, dois moradores de rua começaram a falar. O tom de voz era alto, mas o que falavam era uma maneira de interagir com os atores e mostrar que o espetáculo estava tomando o rumo certo. Um dos moradores repetiu diversas vezes “é assim mesmo que funciona”, “vida de morador é assim mesmo”, entre outras coisas.

As interferências incomodaram algumas pessoas que estavam no teatro. Cerca de 10 pessoas abandonaram a peça no meio. “Não ligo deles terem vindo, mas quando eu vou ao teatro eu quero me concentrar no que estou vendo. Isso não acontece quando temos barulho ao nosso lado”, disse um homem que não quis se identificar.

Os moradores de rua que assistiram à peça ficaram entusiasmados. “Não é todo o dia que temos a chance de vir ao teatro. Eu me emocionei muito porque a nossa vida é realmente do jeito que eles retrataram”, comenta Thiago. Os atores da peça, ainda no palco, agradeceram a presença dos moradores de rua na plateia.

Julia enxerga o incômodo de algumas pessoas como uma chance de mudança. “Ainda existe muito preconceito com pessoas que vivem na rua. Acho que hoje tivemos a oportunidade de mostrar que eles são gente como nós. Eles também assistem teatro, também dormem, também têm suas preocupações... fazem tudo o que qualquer outra pessoa faz”, explica.

*Esse texto é fruto de uma parceria entre a Gazeta do Povo e o curso de Jornalismo da Universidade Positivo para a cobertura do Festival de Curitiba

(((correlata)))

Comemoração dos 10 anos da Companhia Maracujá Laboratório de Artes

SPon SPoff Spend é o primeiro trabalho para adultos feito pela companhia Maracujá Laboratório de Artes, de São Paulo, e marca a comemoração de 10 anos do grupo e a primeira vez que a companhia atua com um diretor convidado, Fernando Escrich.

O espetáculo retrata a vida e as relações de uma comunidade de mendigos que vive embaixo de um viaduto em São Paulo. São oito personagens que se intercalam na história, pois a peça mostra dois planos narrativos distintos: a comunidade de mendigos e uma equipe de filmagem que está produzindo um filme baseando-se numa sociedade formada apenas por moradores de rua.

O Teatro Bom Jesus não chegou a ficar lotado, mas quem assistiu a peça lamentou o fato de poucas pessoas terem ido à estreia. “É uma peça incrível e que retrata quase que detalhadamente o cotidiano de pessoas que vivem na rua. Eu gostei muito, até porque eu não tinha noção de que era assim”, conta Simone Garcia Fontes.

Serviço:

SPon SPoff Spend

Gênero: Tragicomédia

Classificação: 16 anos

Duração: 70 minutos

Próxima apresentação: 26/03

Horário: 21h

Entradas a venda por R$ 70 e R$ 35 (meia)

Local: Teatro Bom Jesus

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