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Monobloco tem show agendado em Curitiba nesta sexta-feira | DivulgaçãoMárcia Morcira
Monobloco tem show agendado em Curitiba nesta sexta-feira| Foto: DivulgaçãoMárcia Morcira
  • O grupo Monobloco

Além de oferecer uma oficina permanente e colocar uma nova geração em contato com o samba, o Monobloco foi responsável por acabar com o preconceito dos jovens em relação a este ritmo brasileiro. É o que garante Pedro Luís, um dos fundadores do bloco. "É só uma falta de acesso. Se você cria essa oportunidade, você quebra esta aparente barreira", disse.

O grupo trabalha em uma oficina permanente, situada no Rio de Janeiro, que forma uma bateria composta por 150 membros para o Carnaval. O projeto, idealizado em 2000 por membros do grupo Pedro Luís e a Parede, se tornou um dos mais importantes e tradicionais da cidade. "Participamos da revitalização do Carnaval de rua carioca, junto com outros grupos importantes. Hoje, o Monobloco arrasta cerca de 200 mil pessoas no desfile carnavalesco."

Sobre as diferenças entre o projeto e o grupo autoral Pedro Luís e a Parede, o músico explicou que o Monobloco faz uso de "uma linguagem mais popular". "É um baile, com canções clássicas da música brasileira de todos os tempos com um tratamento especial dentro do instrumental do samba", contou. O ponto de partida, segundo Pedro Luís, foi "a linguagem de percussão que a Parede já vinha desenvolvendo".

Com uma apresentação em Curitiba na bagagem, o músico garantiu que a o limitado Carnaval da cidade, que em nada se compara ao gigantismo visto no Rio de Janeiro, em nada atrapalha as apresentações na capital paranaense e em outras cidades do Sul do País. "Ficamos impressionados. As pessoas cantaram com a gente e interagiram no baile. Então, não tem essa não. Tem tradição pela música. Tocamos um repertório nacional com grandes composições. É uma reverência à música brasileira", falou

Leia a íntegra da entrevista:

Em que momento da sua carreira você sentiu vontade de criar um grupo como o Monobloco, ao lado dos outros fundadores?

Quando eu estava já no meio da turnê do "É tudo 1 Real", a gente foi fazer um projeto em São Paulo no SESC Vila Mariana. Fizemos um show da Parede e tínhamos a idéia de fazer uma oficina durante uma semana. O Celso Alvim, que é um dos integrantes da Parede e hoje é o maestro do Monobloco, já tinha uma experiência pedagógica com o ensino de percussão brasileira. Sidon Silva, que também é da Parede, era assistente dele. A gente teve essa idéia de adaptar alguns ritmos para um instrumental de samba e fazer esta oficina em São Paulo. E deu super certo. Cada um de nós se adaptou a alguns dos ritmos, e a oficina teve uma grande procura. Fizemos um pequeno desfile com alunos do SESC que foi bem bacana, e eles fizeram uma participação com a gente no show também. E quando chegamos ao Rio, foi proposto à Prefeitura do Rio uma oficina permanente. Foi uma maneira de ganhar um dinheiro e continuar agregado, sem ter que buscar outros trabalhos entre uma turnê e outra. Foi uma maneira de a gente ficar junto e desenvolver um projeto junto, que acabou se tornando um projeto grandioso e permanente na nossa história.

O que da banda "Pedro Luís e a Parede" permaneceu no grupo Monobloco e que características foram descartadas?

Eu acho que a linguagem de percussão que a Parede já vinha desenvolvendo é o "start" da história do Monobloco. Mas o grupo é uma linguagem mais popular, é um baile. São canções clássicas da música brasileira de todos os tempos com um tratamento especial dentro do instrumental do samba. Esse tratamento específico é a grande diferença. Na verdade, o Pedro Luís e a Parede é um trabalho mais autoral voltado às minhas canções e parcerias.

Que importância você dá a este contato direto durante as oficinas?

A oficina permanente é de abril a janeiro no Rio de Janeiro, e forma a grande bateria do Carnaval. Para mim, a importância é que nós participamos da revitalização do Carnaval de rua carioca, junto com outros blocos importantes. Tinham alguns mais antigos que a gente como o Suvaco do Cristo, Carmelita, Santa Teresa. O Monobloco chegou com uma história de misturar não só as referências de Carnaval nesse instrumental, e outros blocos foram fazendo coisas mais tradicionais, mas muito interessantes também. Para a gente, essa experiência é muito bacana. O Monobloco é no Rio de Janeiro um fenômeno surpreendente que arrasta uma multidão de 200 mil pessoas no desfile carnavalesco.

O Monobloco é caracterizado por ter "a cara do Rio de Janeiro". Quando há um show em outras cidades, todos viram cariocas ou vocês procuram incorporar algo mais próximo da cultura local?

Nada fica de lado. O Monobloco é do Rio de Janeiro, mas toca música do Brasil inteiro. Toca Alceu Valença, Sérgio Sampaio, que é capixaba. É uma infinidade de coisas, músicas da Bahia, Dorival Caymmi. É um grupo sediado no Rio de Janeiro, mas que está a serviço da música brasileira, seja ela de que região for. Por conta disso, não há o menor estranhamento. Estamos fazendo uma referência e uma reverência à música brasileira e não carioca.

É difícil trazer este clima de carnaval para outras cidades brasileiras, especialmente para o Sul do Brasil onde a tradição é um pouco diferenciada?

A gente nunca tinha tocado em Curitiba para público aberto, e ficamos muito impressionados. Parecia que já tínhamos feito inúmeros shows em Curitiba por conta da reação da platéia. As pessoas cantaram com a gente e interagiram no baile, então não tem essa, não. Aí tem tradição de gosto pela música. Tocamos um repertório nacional que é super bacana, com grandes composições. Isso vale em qualquer canto do Brasil.

O estilo do Monobloco é bem visto por sambistas tradicionais?

A gente tem uma relação maravilhosa. Nas festas do Monobloco nós recebemos praticamente todas as Velhas Guardas, do Império, Mangueira, Portela, Salgueiro. Odilon Costa, que é um dos maiores mestres de bateria da atualidade, que já foi da Beija-flor e da União da Ilha do Salgueiro e está há quase dez anos na Grande Rio. Ele é uma referência para a gente. No começo das ações do Monobloco, ele ajudou a organizar a bateria, ensinou coisas fundamentais do samba para a gente. Ele é um cara muito inspirado e conhecedor da linguagem do samba. Tanta gente do samba já foi lá, Beth Carvalho foi lá cantar com a gente. O Monobloco é um pouco responsável por esse cruzamento entre os jovens que tinham um pouco de preconceito com o samba, e depois falaram que o samba também é bacana, e as Velhas Guardas que achavam que a juventude não curtia o que eles faziam e puderam, nas festas do Monobloco, entender que não é isso. É só uma falta de acesso. Se você cria essa oportunidade, você quebra esta aparente barreira.

O Monobloco está entre os grupos que mais faz show durante o ano. É complicado ficar tanto tempo em turnê? Quais são os lados positivos e negativos?

Dependendo "da puxada", cansa. Por exemplo, a gente está em Porto Alegre hoje. Depois vamos para Curitiba e seguimos para Pará de Minas. Mas como a gente ama o que a gente faz, na hora que a gente vai para o palco, o cansaço realmente fica de lado esquecido. A platéia responde tão bem que o cansaço fica em segundo plano.

Como você disse, o projeto do Monobloco foi uma forma de manter os integrantes da Parede juntos. Ocorre atrito entre os membros por conta da intensa convivência?

A gente conseguiu uma dinâmica e uma estabilidade em pensar e discutir as idéias juntos. Cada um complementa a condução que o outro faz, e é muito tranqüilo. A gente tem no Monobloco um elenco maior do que o que vai para o palco, e isso oferece uma dinâmica de revezamento que é saudável para todo mundo. Todos podem manter os seus trabalhos, não só do Pedro Luís e a Parede, mas todos os músicos ligados ao Monobloco show. Eles têm abertura e liberdade para trabalhar em outras coisas.

O Monobloco trabalha com músicas já lançadas, enquanto o Pedro Luís e a Parede foca na produção de inéditas. Para você, qual trabalho é o mais importante e valorizado?

Não. Os dois estão devidamente valorizados em seus setores. Depende do jeito que você faz o trabalho. O tratamento que a gente dá às canções consagradas da música brasileira que é o diferencial dele. O do Pedro Luís e a Parede é cantar músicas inéditas minhas e de parceiros. Cada um cria a sua característica e não tem esse juízo de valor de um ser melhor que o outro.

Existe alguma música de outro artista que você gostaria de ter lançado e não conseguiu?

Muitas. Tem tantos compositores maravilhosos no Brasil. Mas é uma inveja totalmente branca, pensando "que bom que o cara fez isso". É inspirador.

Existe algum artista em especial?

Vários. Chico Buarque, Luiz Melodia, Cartola. Muita coisa.

Quais são os projetos para o próximo ano?

A gente já está experimentando algum repertório inédito que vamos inserir no show. Nossa intenção é no meio do ano que vem entregar um trabalho novo para o nosso público.

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