• Carregando...
“Escolhemos mapear dois caminhos, pensando desse modo diferente o lugar onde a gente vive.” Candice Didont, bailarina | Divulgação
“Escolhemos mapear dois caminhos, pensando desse modo diferente o lugar onde a gente vive.” Candice Didont, bailarina| Foto: Divulgação

Programe-se

Confira o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo

Próximas Distâncias, espetáculo de dança contemporânea que estreia nesta quinta e que fica até o dia 13 de dezembro no Teatro Odelair Rodrigues, foi concebido por duas amigas afastadas por milhares de quilômetros (e um oceano), e incorporou esse distanciamento geográfico como seu tema central.

A bailarina Gládis Tridapalli, habitante de Curitiba, conheceu a também bailarina Candice Di­­dont, radicada na Holanda, quando ambas eram ainda adolescentes no pequeno município gaúcho de Santo Ângelo, onde nasceram. Nos 15 anos que se passaram desde o primeiro encontro, sempre morando em cidades diferentes, nunca chegaram a dançar juntas. Trocavam, sim, correspondências nas quais a dança era um dos assuntos mais frequentes: das experiências juvenis com o jazz e o balé clássico, ainda no interior, aos contatos reveladores com outros artistas e companhias que as encaminharam à arte contemporânea.

Quando Candice fez as malas para a Holanda, Gládis se deu conta, talvez tardiamente, de que desta vez estariam realmente "longe" uma da outra, e resolveu que era hora de se aproximarem pela dança, criando juntas. O projeto de Próximas Distâncias surgia direcionado à questão territorial – Brasil e Holanda – e se transformaria em uma discussão sobre "a distância como lugar de criação".

Candice e Gládis se deixaram influenciar pelo trabalho de um grupo dinamarquês, com o qual a primeira teve contato, sobre os trajetos poéticos no espaço urbano que permitiriam uma nova percepção da cidade. "Escolhemos mapear dois caminhos, pensando desse modo diferente o lugar onde a gente vive", diz Candice.

Em Curitiba, onde é professora da Faculdade de Artes do Paraná, Gládis elegeu para as suas experimentações um trecho calmo, cortado pela linho do trem, da Rua Fernando Amaro, a poucas quadras de sua casa, no Alto da XV. "Fiquei dois ou três meses indo lá, observando, sentindo, medindo esse caminho, num processo de deslocamento, para, a partir dessas experiências e sensações, construir dança como dramaturgia estética", conta.

Do outro lado do Atlântico, na interiorana e rural cidade holandesa de Wageningen, Candice escolheu sediar suas pesquisas no atalho entre duas estradas de tráfego intenso e uma plantação de milho. Enviaram uma à outra ima­­gens e descrições da paisagem pela qual transitavam e, finalmente, deram forma ao espetáculo quando se encontraram em Curitiba, há um mês.

"Trabalhamos com o espaço vazio como potência, construindo a partir de direções, do corpo mesmo, esse lugar da distância em que uma contamina a outra. É muito geométrico, tem um cuidado com as linhas, a dimensão e a profundidade, para tentar compartilhar a ideia de ausência que é presente", conceitua Gládis.

A pergunta que as duas bailarinas tentam responder com os seus corpos é: "como, dentro da dramaturgia, conseguimos mostrar essa distância?" – que não se anula pelo fato de Candice estar temporariamente presente, sobre o palco. Para atingir o objetivo, elas recorrem a uma característica da imagem fotográfica: "o corpo como frame", enquadrado para ser visto.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]