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O Museu Oscar Niemeyer (MON) está prestes a completar quatro anos de atividades. Foi inaugurado com pompa e circunstância no dia 22 de novembro de 2002, faltando pouco mais de um mês para o término da gestão do ex-governador Jaime Lerner. Depois das festividades de abertura, passou meses fechado para reestruturação interna, ao passo que o meio artístico cobrava definições, principalmente sobre a programação e a política de acervo.

Hoje, o museu é um ponto turístico, e o seu "olho" (marca registrada da instituição), um cartão-postal de Curitiba. O espaço também é sucesso de público, fazendo parte dos passeios de muitas famílias nos finais de semana, desenvolvendo programas de monitoria em parceria com universidades e despertado a atenção por conta das exposições internacionais e nacionais de grande porte.

O Caderno G pediu a três estudiosos das artes que opinassem sobre o caminho traçado pela instituição. O balanço é quase sempre ambíguo, reconhecendo, de um lado, a importância que o MON conquistou no circuito de artes, e, por outro, fazendo ressalvas e lançando perguntas sobre suas políticas administrativas.

Para Geraldo Leão, artista plástico e curador convidado do MON na mostra Fragmentos de Modernidade, realizada no primeiro semestre deste ano, o museu ganharia com a contratação de um curador independente. "É um espaço muito importante, em processo de autodescobrimento, melhorando cada vez mais e construindo uma importante história de exposições. Sua proposta caminha para um nível de profissionalização progressivamente maior e esse nível será atingido com a contratação de um curador profissional e independente", afirma Leão.

Atualmente, o MON não conta com um curador ou corpo curatorial próprio. Todas as mostras que produz são realizadas em parceria com curadores convidados.

De acordo com o crítico e pesquisador Paulo Reis, o MON pode ser encarado em duas frentes de discussão: "Por um lado, eles trouxeram exposições significativas para a cultura de Curitiba, como Daniel Senise, Fluxus, Surrealismo e Dadaísmo, Tomie Othake, entre tantas outras, e acho que somos muito privilegiados por podermos vê-las em Curitiba. Por outro lado, a indefinição continua, porque eu não consigo ver uma política do que eles querem fazer", diz Reis.

Para o crítico, não está clara a proposta que o MON pretende desenvolver enquanto museu. "Qual é o critério que decide se entra uma exposição e não outra? Não que elas tenham de ser amarradas. O MON pretende ser um museu de arte contemporânea, ou um mais abrangente, que congrega exposições de História?", indaga.

O mesmo tipo de dúvida paira sobre a política de acervo da instituição, composta pelas obras herdadas do Museu de Arte do Paraná (MAP) e do extinto Banco do Estado do Paraná (Banestado). Não haveria, segundo Reis, uma determinação clara sobre os critérios de aquisições para a construção futura do acervo. "O espaço tem atuado com exposições contemporâneas, mas isso significa que eles pretendem comprar obras que também configurem essa contemporaneidade? Ou será que podemos esperar a aquisição de objetos históricos, como tapeçarias?", pergunta Reis. O crítico afirma que a presença de um curador ou um grupo de curadores contratados seria fundamental para dar encaminhamento mais preciso às políticas da instituição.

O crítico apontou, ainda, que as mostras retrospectivas dedicadas a artistas paranaenses, como Helena Wong, Miguel Bakun ou Theodoro de Bona, não arriscam novas leituras e enxergam sua produção unicamente à luz do regionalismo paranaense. Reis sugere iniciativas como a de Paulo Herkenhoff , curador da mostra Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, apresentada no próprio MON, em 2004. "Nessa mostra foi possível tecer relações entre Tomie e um Tony Camargo, um Geraldo Leão, uma Eliane Prolik, um Orlando Azevedo, artistas locais colocados lado a lado com nomes de fora", argumenta Reis.

O historiador da arte, professor e curador Artur Freitas afirma que o balanço das atividades do MON é "mais positivo que negativo". O museu estaria conseguindo inverter o circuito de artes, trazendo exposições antes de elas seguirem para o eixo Rio-São Paulo. "Ele cumpre um papel importante colocando Curitiba dentro de um circuito alternativo, que antes era ocupado pela Casa Andrade Muricy e pelo Museu Metropolitano de Arte, e que hoje é capitaneado pelo MON", afirma.

Freitas também elogia a continuidade da iniciativa. "Quando o museu foi inaugurado, no final da administração anterior, eu temia que ele se transformasse em um elefante branco e virasse objeto de disputa política. Nesse sentido, esse governo promoveu uma continuidade do que é positivo", afirma Freitas.

Entre os pontos negativos, o estudioso cita a ingerência política no espaço e a ausência de um sólido centro de pesquisa. "Pelo fato de não estar subordinado à Secretaria de Cultura, ele acaba funcionando como instituição independente, em detrimento do publico de arte local. As ações são feitas sem contato com o circuito local", afirma o professor. O centro de pesquisa, aberto em 2005 e em processo de formulação, segundo as informações do museu, também estaria recebendo pouca atenção.

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