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Foi numa partida de pôquer que os filhos de Frenchie e Minnie ganharam os nomes que carregariam para o resto da vida – e pelos quais se tornariam famosos na Hollywood dos anos 30 (embora o primeiro sucesso, Hotel da Fuzarca, seja de 1929). Leonard virou Chico. Julius tornou-se Groucho. Adolph deu lugar ao Harpo. Milton, rebatizado Gummo. E Herbert passaria a ser chamado de Zeppo. E todos eram Marx. Os irmãos Marx.

Essa versão para a origem dos apelidos é confirmada na autobiografia Harpo Fala... de Nova York (Tradução Roberto Muggiatti. José Olympio Editora, 56 págs., R$ 18). Escrito com Rowland Barber, livro tem apresentação do romancista E. L. Doctorow (Ragtime).

O título pode dar a idéia de que Harpo Marx (1888 – 1964) está em Nova Iorque e, da cidade, escreve a sua autobiografia. Não. Na verdade, Harpo fala sobre Nova Iorque, local onde nasceu, cresceu e gazeou aulas.

Doctorow tem uma teoria ótima, sobre como todas as crianças tinham preferências pelo Harpo. Groucho era o cérebro, "mas tinha momentos em que nos sentíamos ameaçados por Groucho, como se houvesse alguma escuridão nele, ou alguma revelação inadvertida dos lineamentos da vida adulta que fosse talvez premonitória de nossa própria escuridão espiritual".

A opção por Harpo é equivalente à preferência pelo Curly, quando o assunto é Os Três Patetas (ninguém se arrisca a defender Moe ou Larry). Mas enquanto Curly estava acima do peso, servia de alvo para os outros dois e chorava como um bebê, Harpo era ágil, sacana e mudo – daí a ênfase no "Harpo fala".

Talvez uma das melhores gags de toda a história dos Irmãos Marx é aquela em que Harpo apóia a perna na mão do galã disponível (às vezes, fazia isso também com as mulheres). Irado, o galã saía atrás de Harpo que corria como nenhum outro.

A autobiografia tem apenas 36 páginas, fala pouco de cinema e não cita sequer um filme. Ela se concentra na infância e nos anos de formação de Harpo. Ou melhor, de deformação. Aluno muito abaixo da média, ele enrolou o que pode e largou os estudos aos 14 anos. Preferia as ruas, que o prepararam "para o mundo".

Harpo transita com bom humor pelas agruras da família, que mal tinha dinheiro para comer. Descreve pais heróicos, mas ocupados demais para cuidar de uma prole de cinco. Frenchie era o alfaiate que trabalhava em casa e preparava os jantares. Minnie era obcecada pela vida artística dos filhos e não sossegou até introduzi-los no mundo do espetáculo.

Quem lembra do Harpo, consegue visualizar aquele sujeito de cartola e peruca, com os bolsos cheios de quinquilharias. Uma harpa, um relógio sem ponteiros e um pé de patim eram suas marcas registradas. Todos esses objetos têm origem na vida pessoal de Harpo. Saber das histórias de cada um deles já vale o livro (e pode levá-lo às lágrimas).

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