
Paulínia, SP - Se o sábado do SWU teve black music e a segunda-feira foi destinada ao hard rock, a programação do domingo foi difícil de classificar. O encerramento do segundo dia do evento que teve de Zé Ramalho a Courtney Love , em Paulínia (a 117 km de São Paulo), trouxe duas atrações que só têm em comum os anos de estrada.
Peter Gabriel, responsável pelo último show da programação do fim de semana, é o ex-integrante do Genesis cujo trabalho, denso e politizado, tornou-se ainda mais grandioso em companhia da New Blood Orchestra. Já o Lynyrd Skynyrd é uma banda de norte-americanos beberrões e simpáticos que só pensam em divertir seus iguais: outros beberrões, principalmente os fãs das motos Harley-Davidson.
A apresentação de Gabriel, com arranjos lentos e canções introspectivas, demanda silêncio e concentração. Tem vocação para espaços fechados e menores. Os fãs foram extremamente respeitosos, assistindo a tudo com reverência. Até se empolgaram em hits como "In Your Eyes", "Mercy Street" e "Solsbury Hill".
Mas o progressivo esvaziamento da área em frente ao palco mostrou que nem todos conseguiram aguentar as quase duas horas de espetáculo. Até porque Gabriel acrescentou longos discursos em português.
Além das introduções das canções, contando as histórias por trás delas, Gabriel defendeu causas políticas, desde a Primavera Árabe até a luta contra o alistamento forçado de crianças na África. Ele terminou diante de uma plateia de poucos resistentes, com a canção "Biko".
No caso do Lynyrd Skynyrd, tudo foi mais simples. Os velhos cabeludos tocaram rock e blues acelerado para uma legião de fãs que desde cedo exibia camisetas com o nome da banda pelas áreas do festival. O grupo perdeu seus integrantes mais importantes num acidente de avião em 1977, mas os sobreviventes levam adiante sua bandeira de diversão.
Por mais que pareça uma banda cover da original, o Lynyrd ainda consegue arrepiar os fãs de mais de 40 anos com os acordes de "Sweet Home Alabama" ou da delirante "Free Bird", que encerraram o show.
Atraso causa briga entre equipes
A chuva forte que caiu no domingo à tarde em Paulínia causou mudanças na programação dos shows do segundo dia do SWU e uma briga entre os assistentes de palco de Peter Gabriel e do Ultraje a Rigor. Quando a banda brasileira iria começar seu show no palco Consciência, às 16 horas, rajadas de ventos empurravam a chuva sobre o local e a apresentação foi adiada.
Com o show do Ultraje rolando mais tarde, já sem chuva, membros da equipe de Peter Gabriel, programado para tocar depois do norte-americano Chris Cornell, queriam que a banda brasileira encurtasse seu show. Houve uma discussão seguida de socos entre roadies das bandas, que foi logo apartada.
Antes de continuar o show, Roger Moreira, vocalista do Ultraje, desabafou com a plateia. "É f*! Artista gringo vem aqui cagar na nossa cabeça. A gente já fica com o som pior e vem um babaca desse fazer merda aqui."
O público pensou que ele falava de Chris Cornell e vaiou o roqueiro americano. Depois do show, Roger alfinetou Gabriel no Twitter. Ontem, o vocalista do Ultraje afirmou, por meio da rede social, que Peter Gabriel havia lhe telefonado para se desculpar pelo incidente.
Nos palcos principais, Zé Ramalho foi o único da tarde a começar seu show seco. Fez uma apresentação de canções conhecidas de sua longa carreira, com o público cantando juntos hits como "Admirável Gado Novo" e "Frevo Mulher".
Todo de preto, recebeu muito carinho da plateia, repleta de gente com camisetas da banda americana Lynyrd Skynyrd, que fecharia a noite.
Zé Ramalho abriu cantando Gonzaguinha e, quase no fim do show, emendou duas músicas de Raul Seixas, "O Trem das Sete" e "Medo da Chuva". Justamente quando ele cantava esta a água começou a cair em Paulínia. Não foi suficiente para atrapalhar o momento "Toca Raul".
A Tedeschi Trucks Band, liderada pelo casal Susan Tedeschi (vocal e guitarra) e Derek Trucks (guitarra), mostriou seu típico blues rock sulista americano (são de Jacksonville, Flórida), cheio de solos dos instrumentistas.
Duff McKagan atrai fãs do Guns n Roses
Bem conservado, especialmente em comparação com seu ex-colega Axl Rose, Duff McKagan, ex-baixista do Guns n Roses apresentou-se ontem à tarde no SWU com seu projeto solo, o Loaded, no qual toca guitarra e faz os vocais, e mostrou um show bem mais pesado do que o de suas bandas anteriores. Na próxima quinta-feira, o artista vem ao Paraná para show único junto com a banda Down, do ex-integrante do Pantera, Phil Anselmo, no Curitiba Master Hall.
McKagan atraiu diversos fãs interessados em ouvir sucessos do Guns, mas ele fez poucas concessões a maior parte do show foi dedicado ao hard rock de sua banda atual. O cenário melhorou à medida que Duff se aproximou de suas influências punks, como na cover de "New Rose" (Damned), com citação de "You Cant Put your Arms around a Memory" (de Johnny Thunders). E aí, já perto do fim, vieram as canções do Guns a balada "So Fine", a pouco tocada "Dust n Bones" e, no momento de maior empolgação, "Its so Easy".




