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Quem assiste ao filme Em Busca da Terra do Nunca (2004), conhece algumas informações de bastidores sobre sir James Matthew Barrie (1860 – 1937), autor de um dos grandes clássicos da literatura infanto-juvenil: Peter Pan, publicado pela primeira vez em 1911. O garoto que não queria crescer surgiu dez anos antes em uma peça de teatro e teria sido inspirado nos filhos da família Llewelyn-Davies, pelos quais o escritor nutria uma grande amizade. Agora, depois de gerar várias adaptações em todo tipo de mídia, o personagem ressurge em uma improvável e ultra-aguardada seqüência, Peter Pan Escarlate, de Geraldine McCaughrean (Tradução de Maria Luiza Newlands Silveira. Salamandra, 344 págs., R$ 35,90), lançado simultaneamente em mais de 30 países na quinta-feira passada.

Barrie, em 1929, doou os direitos autorais de Peter Pan (que, na época, trazia "e Wendy" no título) para o hospital infantil da rua Great Ormond, ou Great Ormond Street Hospital, de Londres. O detalhe é que o presente – muito útil ao longo de mais de sete décadas – veio com prazo de validade. Os direitos sobre o romance expiram no fim de 2007 e os responsáveis pelo hospital bolaram uma solução audaciosa para o problema.

Em 2004, propuseram um concurso a fim de encontrar a primeira seqüência autorizada para o clássico de Barrie. Mais de 200 escritores de várias partes do mundo enviaram uma sinopse acompanhada de um capítulo. A inglesa Geraldine McCaughrean, autora de 139 livros infanto-juvenis, venceu a parada, embora "não fosse escocesa e nem homem", como disse em entrevista à imprensa americana, referindo-se a Barrie. Em um jornal inglês, a autora revelou que Peter Pan não era de maneira nenhuma o livro favorito de sua infância. "Não é possível amar muito um livro antes de adaptá-lo", escreveu, dizendo que "não ousaria erguer uma caneta para escrever uma seqüência se nutrisse uma paixão aterrorizante por Peter Pan e Wendy".

Segredo

Peter Pan Escarlate foi cercado por um clima "harrypotteriano", com jornalistas e funcionários da editora da universidade de Oxford assinando documentos que os obrigaram a manter segredo sobre todos os detalhes da história. Nada disso adiantou. Informações vazaram e, no mês passado, a imprensa de língua inglesa já dava dicas da Terra do Nunca descrita por Geraldine, que experimentou pressão semelhante à de J. K. Rowling, criadora de Harry Potter.

Desde o início, o mistério maior estava relacionado ao Capitão Gancho e, esse, ninguém conseguiu desvendar. Até agora. Gancho voltaria mesmo depois de ter sido devorado pelo crocodilo? A primeira palavra do capítulo 18 (sem contar o título), na página 233 da edição brasileira, mata a curiosidade dos mais afoitos.

Sem estragar a surpresa: os "Meninos Perdidos" viraram "Senhores de Respeito". Longe da Terra do Nunca, todos cresceram e criaram suas famílias com filhos. O mesmo aconteceu com Wendy. Sai Sininho e entra Pirilampo (de espírito mais anárquico). A história, ambientada na década de 1920, começa com um surto de sonhos estranhos que toma Londres de assalto. Perturbados pelo fenômeno sem explicação, os senhores se reuniram para tentar achar uma solução. Como não poderia deixar de ser, a razão que prevalece ainda é a de Wendy. "Os sonhos estão vazando da Terra do Nunca", diz ela. "Alguma coisa deve estar errada. Se quisermos que os sonhos parem, temos de descobrir o que é."

Para voltar ao lugar para onde são enviadas as crianças que caem dos carrinhos, o grupo precisa arranjar meios de "deixar de ser adulto", "lembrar como voar" e "encontrar poeira de fadas". Eles conseguem preencher os requisitos e acabam encontrando uma Terra do Nunca diferente, outonal, quase sombria.

Feitas de folhas de árvores, as roupas verdes de Peter Pan estão avermelhadas (daí o "escarlate" do título, reforçado pela descoberta de um casaco vermelho que foi de Gancho). Os Meninos Perdidos quebraram as regras e foram expulsos por Pan. O personagem está solitário, parece menos ingênuo e mais aventureiro. Esse foi o tom escolhido por Geraldine, estabelecido já na dedicatória do livro. "Para todos os exploradores audazes e para o senhor Barrie, é claro." A melhor maneira de descrever Pan é, enfim, como um explorador audaz e egocêntrico. Esta característica, surpreendente em um personagem infantil, tem explicação (revelada ao longo da narrativa).

O enredo fica melhor a partir do capítulo sete, quando Pan, Wendy e os meninos reencontram o navio do Capitão Gancho. E é melhor parar por aqui.

Números

95 anos tem a primeira publicação de Peter Pan e Wendy (1911). Mais tarde, rebatizada de Peter Pan, a obra foi imaginada antes como um romance para adultos, depois como um livro de arte e, em seguida, como uma peça de teatro. Só depois viraria um texto para crianças

200 autores mandaram textos para o concurso promovido pelo Great Ormond Street Hospital a fim de produzir a continuação de Peter Pan. Geraldine McCaughrean foi a escolhida. A autora levou pouco menos de um ano para entregar o manuscrito.

32 países estavam envolvidos no lançamento mundial de Peter Pan Escarlate, realizado na última quinta-feira. No Brasil, a publicação ficou a cargo da editora Salamandra, que havia recém-lançado a tradução de Ana Maria Machado para o clássico de J. M. Barrie.

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