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Acompa­nhado da impecável Copper Bottom Band, Hugh Laurie fez rir e criou um túnel do tempo no Teatro Positivo | Antônio More/Gazeta do Povo
Acompa­nhado da impecável Copper Bottom Band, Hugh Laurie fez rir e criou um túnel do tempo no Teatro Positivo| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A relação de britânicos com a música norte-americana quase sempre é umbilical e transformadora. Pense em The Kinks e Beatles bebendo do que um dia fizeram Elvis e Jerry Lee Lewis, por exemplo. Mas o inglês Hugh Laurie, em show na última terça-feira no Teatro Positivo, deu outra conotação à palavra influência. O eterno Gregory House, protagonista da série House, mudou a "chavinha" para a função músico e se mostrou um saudosista bem-humorado ao cavoucar despretensiosamente parte da história da música negra dos Estados Unidos e fazer um misto entre show e stand-up.

Foi divertido. Acompanhado da excepcional Copper Bottom Band, Hugh Laurie intercalou blues e jazz de outrora com piadas sobre a Rússia e flertes ocasionais com moçoilas da plateia. A primeira da noite – "Iko Iko", um patrimônio de New Orleans escrito em 1953 por James Crawford – foi responsável por sustos em quem só conhecia o Hugh Laurie da tevê.

O som ainda estava incomodamente baixo na divertida "Buona Sera", clássico na voz do ítalo-americano Louis Prima. Foi nesta música que veio a certeza: apesar de parecer um menino brincando com as músicas que sempre gostou de ouvir, Hugh Laurie não é um aventureiro musical. Ele sabe o que faz, toca piano muito bem e é um frontman de se tirar o chapéu.

"What Kind of Man Are You" – lembra do Ray Charles? – e "Day and Night" valorizaram os scats e as nuances gospel da ótima Sister Jean McClain, fazendo o Teatro Positivo parecer momentaneamente uma plantação de algodão à beira do Mississipi. Aí, pausa para o drinque.

Hugh Laurie interrompeu o show e, numa bandeja, ofereceu pequenos copos com uísque para toda a banda. "É uma tradição, apesar de eles serem alcoólatras em recuperação, vocês sabem...", brincou. Uma música ambiente tomou conta do teatro, enquanto a banda degustava o mimo oferecido pelo chefe. Todos esperavam o desfecho daquilo. "Fizemos isso na Suíça. E demorou 45 minutos para que a plateia se manifestasse", soltou Hugh.

Se fosse para apontar um hit, este seria "You Don’t Know My Mind", sucesso de seu primeiro disco – Let Them Talk, de 2011. O anúncio da música foi comemorado com gritinhos de jovens moças que antes diziam "lindo!" e com "uhuuus" de rapazes convictos de que iriam ouvir a versão atualizada da música do bom e velho blueseiro Jimmy Martin (1927-2005).

Apesar de a qualidade do som melhorar, a outra metade do espetáculo foi morna, com baladas em que Hugh demonstrava sua não muito convincente verve de guitarrista. Já no bis, caminhando sobre o fosso que separa o palco da plateia – "O que é isso? Uma piscina?", perguntou Hugh, surpreso – Dr. House recolheu presentes das fãs e vestiu um chapéu vermelho que chegou às suas mãos sabe-se lá como.

A última música foi tão surpreendente quanto fiel à sua versão original. "Mas Que Nada", de Sérgio Mendes, encerrou um show que, se para a plateia foi divertido, para Hugh Laurie foi a confirmação de que seu hobby tem futuro. "Obá, obá, obá." GGG1/2

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