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O estereótipo do músico cubano, com um charuto numa mão e um copo de rum na outra, está longe de descrever Roberto Fonseca. Aos 32 anos, nascido em Havana, diz não beber e nem fumar. Uma das coisas que procura mostrar para o público é que, em Cuba, há também dias de chuva.

A Biscoito Fino acaba de lançar Zamazu, novo disco do pianista que começou sua carreira tocando para Omara Portuondo e Ibrahim Ferrer, ambos redescobertos pelo projeto Buena Vista Social Club, de Ry Cooder.

Fonseca segue a tradição dos ícones com que trabalhou, ao mesmo tempo em que procura assimilar outros gêneros musicais como o jazz, a música popular brasileira e os ritmos orientais.

O jazz aparece sobretudo em "Llegó Cachaíto", composta pelo pianista para o contrabaixista Orlando "Cachaíto" López, que o acompanha. É talvez o melhor exemplo do que Fonseca quis dizer com "dias de chuva" em Cuba.

Uma das curiosidades do álbum é o livreto das músicas que traz um pequeno texto do próprio Fonseca explicando cada uma das composições, o porquê das escolhas que fez e a história por trás das referências que usa.

"Zamazu", a faixa-título, foi inspirada numa brincadeira da sobrinha de Fonseca. Quando queria convencer a família de que falava um outro idioma, ela dizia "zamazu" ou "zamazamazu", que também virou título de música.

Das palavras niño (menino) e viejo (velho), surgiu "El Niejo", composta em memória de Ibrahim Ferrer (1927 – 2005), para quem Fonseca chegou a produzir um disco de boleros. É onde aparece um dos solos de piano mais inspirados do disco. Outro ponto alto de Zamazu também está ligado à velha guarda da música cubana: "Mil Congojas", só com piano e voz (a de Omara Portuondo).

Em meio às 14 faixas desse que é o quinto disco de Roberto Fonseca – mas o primeiro a sair no Brasil depois de ser elogiado pela imprensa francesa –, existe um negócio capaz de incomodar quem está mais interessado no pianista de tons jazzísticos, caribenhos e orientais do que no clima baiano-espiritualista em que ele investe. O problema é que Fonseca adora fazer vocalizações e solta uns "aaaêêê-la-la-êêê" que parecem ter saído de um disco do Carlinhos Brown. Aliás, o brasileiro toca "gaita da serra" em "Ishmael" e é listado como "participação especial". GGG

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