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Assim como Brad Mehldau, Jamie Cullum também assume com orgulho suas influências mundanas, criando versões para composições do Radiohead e do Jimmy Hendrix. Porém, enquanto o americano Mehldau é um pianista mais "cerebral" e "sofisticado" (esse é um adjetivo que deveria ser proibido no jazz), Cullum acumula fãs por seguir uma linha supostamente mais "acessível" do gênero e, por isso mesmo, popular. Semelhante a Norah Jones.

O recém-lançado Catching Tales planta os dois pés de Cullum no pop – embora o jazz dê as caras em um ou outro standard, como "I Only Have Eyes for You" e "I’m Glad There Is You". Das 14 faixas, uma dezena é composição do pianista de meros 23 anos. Essa é a imagem que se tornou conhecida: a do jovem genial capaz de proezas inesperadas quando se apresenta em público. Um dado curioso na biografia do britânico é a existência na sua vida de uma namorada curitibana que, de tempos em tempos, o obriga a vir ao Brasil.

O fato é que Cullum é uma espécie de one-man-band. Pegue "London Skies", a segunda faixa do novo disco: ele toca guitarra, percussão, xilofone e piano. Ah, e canta (além de compor). Fato que se repete em quase todas as músicas, contribuindo com mais de um instrumento. A atmosfera romântico-poética predomina nas letras, como em "Photograph": "O nome dela estava escrito na fotografia/ Bem próximo do seu rosto queimado do sol".

O som produzido por Cullum lembra uma tarde quente e agradável de sábado em que não se tem nada para fazer (e isso não é ruim). "Mindtrick" talvez seja a melhor síntese dessa sensação. Ousadias que apareciam no álbum anterior, Twentysomething (2003), ficaram para trás. Não há releituras para peças de rock e nem a ansiedade de impressionar em seu primeiro lançamento por uma grande gravadora, no caso, a Universal. Sua estréia aconteceu aos 19 anos, com o disco Heard It All Before (de 2001, que não teve lançamento comercial). Em seguida, caiu nas graças do baixista Geoff Gascoyne, que o ajudou a lançar Pointless Nostalgic (2002) por um selo chamado Candid. O passo seguinte seria a Verve e o sucesso de público e de crítica.

Talvez a referência não seja útil para quem não ouve rock – e é difícil saber se Cullum toca e canta para um público que tem a sua idade ou não –, mas o fato é que sua voz se parece muito com a de outro ícone adolescente, Julian Casablancas, vocalista da banda The Strokes. Em alguns momentos, como na faixa "Oh God", a semelhança chega a impressionar.

Ouvindo Catching Tales outra vez, se torna difícil imaginar o público-alvo de Cullum com outro rosto que não o do pianista. Jovem o suficiente para ser despretensioso. Despretensioso o bastante para ouvir música que agrada, mas não marca. GGG

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