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Daniel Senise sofreu um acidente interessante nos anos 80, enquanto realizava uma de suas pinturas. Como era do seu feitio naquele tempo, carregarava as telas com muita tinta. Foi quando um dos trabalhos despencou, virado para baixo. Ao erguer o quadro, Senise percebeu que a tela havia se tornado uma impressão do chão, carregando suas partículas, ao mesmo tempo em que o chão exibia as marcas de tinta. No lugar da lamentação, o causo abriu um mundo de possibilidades: todo o espaço é, afinal, empregando de nós e do nosso tempo. A mostra Daniel Senise 2000-2006, que abriu para o público ontem no Museu Oscar Niemeyer (MON), leva o princípio às últimas conseqüências.

Trata-se de 23 pinturas desenvolvidas pelo artista carioca nos últimos cinco anos, por meio de um processo técnico peculiar. Em um primeiro estágio, as telas virgens são coladas no chão de tábuas corridas para serem arrancadas logo depois, obtendo monotipias (impressões com um único exemplar possível). Em um segundo momento, Senise recorta várias monotipias diferentes obtidas por variações do processo (uso de mais ou menos cola) para fazer colagens em outras telas que, por sua vez, contémdesenhos representado espaços rquitetônicos ou mesmo outras pinturas.

Os trabalhos expostos no MON foram organizados em três séries. Em uma delas, a técnica é aplicada para pesquisar os espaços arquitetônicos, e, mais importante, espaços museológicos, dando continuidade à abordagem do vazio previamente desenvolvidapelo artista.

Outra série pesquisa os espaços de outras pinturas, como obras renascentistas, por exemplo. "Senise entende pintura como superfície e, portanto, ela não precisa ser pintada no sentido tradicional do termo. Ele faz citações à pinturas do passado, o que é uma maneira de dizer que algo não pode vir incólume, que ele sempre está impregnado do nosso presente", comenta o curador da exposição, o crítico dearte Agnaldo Farias.

A última seqüencia é composta por lençóis que levam as marcas e memórias do que são, em última instância, a vida e a morte. São tecidos obtidos em um hospital e um hotel, que trazem impregnados os resíduos deixadospelos usuários – marcas de relações sexuais, no caso de hotel, e de excrecências de doentes, no caso do hospital.

Senise é um dos expoentes da chama da Geração Oitenta. Nasceu no Rio de Janeiro em 1955 e iniciou a carreira estudandopintura com John Nicholson e Luiz Áquila. Seu extenso currículo inclui diversas participações na Bineal Internacionalde São Paulo, além de mostras em outras regiões do país e do exterior. Atualmente, divide o tempo entre seus ateliês em NovaIorque e Rio de Janeiro.

Juntamente com a mostra também foi lançado um catálogo contendo ensaio e bibliografia crítica de autoria de Agnaldo Farias, num projeto com coordenação geral de FábioCoutinho.

Serviço: Daniel Senise – 2000 – 2006. Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), (41) 3350- 4400. De terçar a domingo, das 10 às 18 horas. Ingressos a R$ 4 (adultos), R$ 2 (estudantes), livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas). Até 5 de novembro. Informações: www.museuoscarniemeyer.org.br.

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