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Crítica

O Gênio Não Original: Poesia por Outros Meios no Novo Século

Marjorie Perloff. Tradução de Adriano Scandolara. Editora UFMG, 314 págs. R$ 65.

Marjorie Perloff, uma das críticas de poesia mais importantes dos Estados Unidos, já é conhecida do leitor brasileiro. Depois de Momento Futurista (1993) e A Escada de Wittgenstein (2005), é a vez de Gênio Não Original: Poesia por Outros Meios no Novo Século ser publicado por aqui, com tradução do poeta e tradutor curitibano Adriano Scandolara. Defensora das vanguardas e da experimentação poética, Perloff continua a nos provocar, ao questionar paradigmas do que se entende por poesia, sobretudo aquela centrada na lírica da autoexpressão e da fala direta, que ela vê como sendo ainda dominante nos EUA. Para ela, em tempos de globalização e internet, num ambiente de hiperinformação e onde todos são autores em potencial, o elemento central na poesia do século 21 é o trabalho literário feito através de apropriação, citação e colagem de textos alheios, ou ainda através de "restrições" que o autor estabelece para gerar seu texto.

Perloff ancora essa nova poesia conceitual e antissubjetiva na vanguarda do começo do século 20. Se precedentes importantes são o poema "A Terra Devastada" de T. S. Eliot e os Cantos, de Ezra Pound, é o filósofo alemão Walter Benjamin que brilha como principal antecessor dessa prática. Passagens, livro que é um longo ensaio incompleto sobre Paris, feito quase todo de fragmentos de citações, é analisado pela crítica como paradigma para a poesia futura "do gênio não original".

Estaríamos fadados a uma poesia do "recortar-copiar-colar"? Em certos casos, como no da poesia Flarf, onde poemas são feitos a partir de ferramentas de busca, a resposta é positiva. Mas as coisas são mais complexas nessa nova poesia citacional e conceitual, como ela demonstra ao analisar os trabalhos recentes de Charles Bernstein e Susan Howe, por exemplo. Central para seu argumento de "gênio não original" é Kenneth Goldsmith, autor de um livro chamado Escrita Não Criativa. Em obras "extremas" como Solilóquio, ele faz a transcrição exata, sem edição, de cada palavra que ele pronunciou em uma semana. Já o livro Dia é resultado de sua digitação, do começo ao fim, de uma edição inteira do New York Times. Tráfego é uma colagem de todos os boletins de trânsito transmitidos por uma emissora de Nova Iorque durante um feriado prolongado.

O livro de Perloff nos faz pensar: seríamos capazes de dispensar, quando falamos em poesia (arte da linguagem verbal), ideias como criatividade, inventividade, emoção, expressão de nosso eu individual? Pode-se concordar ou não com ela, mas seu livro é rico em discussões e exemplos, essencial para quem se interessa por poesia contemporânea.

Rodrigo Garcia Lopes é escritor, compositor, jornalista e tradutor. Em 2013 lançou Estúdio Realidade (poesia) e o CD Canções do Estúdio Realidade (música). Site www.rgarcialopes.wix.com/site.

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