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A cantora em apresentação de 2011: sem perguntas pessoais, por favor | Divulgação
A cantora em apresentação de 2011: sem perguntas pessoais, por favor| Foto: Divulgação

O aviso, em tom de ameaça, do empresário de Sinéad O’Connor, pedindo que a entrevista por telefone com a cantora irlandesa – que acaba de lançar o disco How About I Be Me (and You Be You)? – "se limite à música, sem perguntas pessoais ou então ela será encerrada" parece estranho. Afinal, ele deve estar careca de saber que, desde que rasgou uma foto do Papa João Paulo II, ao vivo, na televisão americana, em 1992, a trajetória da artista tem sido marcada pelas suas controvertidas atitudes.

O novo disco – o nono de uma carreira iniciada em 1987 e o primeiro depois de cinco anos – traz letras que falam, de forma aberta, sobre viciados, relacionamentos fracassados, fama, sexo e religião. E no caso de Sinéad, é difícil separar ficção e realidade sabendo-se que ela teve problemas com drogas, passou por um conturbado divórcio (o quarto) no começo do ano, mesmo período em que se internou numa clínica para lutar contra a depressão e, segundo os tabloides ingleses, teria tentado o suicídio. E nada disso foi escondido do público, já que a própria cantora de 45 anos falou sobre esses e outros temas polêmicos em seu site e também no Twitter.

"Esse disco representa a busca por um foco depois de tudo o que aconteceu comigo nos últimos tempos", diz ela. Foco seria um santo remédio para a artista que teve o seu ápice em 1990, com o megahit "Nothing Compares 2 U", escrito por Prince. Colaborações com Roger Waters e Rick Wright (do Pink Floyd) e participações em coletâneas como Two Rooms (em homenagem a Elton John) e no primeiro disco da série beneficente Red Hot + Blue mantiveram o nome de Sinéad nos letreiros, apesar de Frank Sinatra ter declarado vontade de "chutar a bunda" da cantora após ela ter proibido a execução do hino americano antes de um show nos EUA, no começo daquela década.

O episódio da foto do Papa no programa Saturday Night Live, seguido por uma desastrosa apresentação no Madison Square Garden, em Nova York, durante um show em tributo a Bob Dylan, durante o qual foi vaiada e impedida de cantar, tiveram um forte impacto emocional em Sinéad, que acabou se retraindo e, desde então, nunca mais conseguiu recuperar o prestígio. "Sofri durante muito tempo por não ter seguido os mandamentos das estrelas do show business. A fama e a fortuna nunca foram as minhas motivações principais, diferente de tantos outros", garante ela, que durante uma entrevista a Oprah Winfrey, em 2007, admitiu sofrer de distúrbio bipolar. "O ato de cantar me poupa idas ao médico. E é ele que me motiva a gravar um disco como este."

Classificado pelo jornal The Guardian como "cru e apaixonante", o novo disco traz uma faixa, "Take Off Your Shoes", na qual Sinéad mais uma vez se envolve com a religião, cantando: "Eu derramei o sangue de Jesus por vocês." "Eu gostaria de poder conversar com o Papa sobre essa música e tantos outros assuntos, mas só de falar disso já me vejo envolvida em confusão e não quero mais nada disso. Já fui muito mal interpretada."

Produzido por seu ex-marido John Reynolds, How About I Be Me (and You Be You)? traz nove outras faixas, entre elas, "Reason with Me", contada a partir do ponto de vista de um viciado em busca de redenção. "Gostaria de ligar para aquele número um dia/ Não é tarde demais", canta ela, acompanhada por uma delicada base de violão e piano.

Antes de se despedir, chamada pelo empresário, a incomparável Sinéad faz um pedido estranho e inocente como ela mesmo às vezes parece ser: "Me faça um favor? Mande um abraço para todas as crianças de rua do Brasil".

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