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O ator José de Abreu | Divulgação
O ator José de Abreu| Foto: Divulgação
  • O ator José de Abreu

"Fala, Zé!" foi criada para dar voz a todos os "Zés" do Brasil, mas é José de Abreu e suas experiências pessoais que sobressaem na peça que esteve em cartaz em Curitiba no último fim de semana. Apesar de viver o personagem Zé, ele fala do próprio José de Abreu e sua participação em alguns dos eventos mais importantes da história brasileira.

Assim como o ator explicou em entrevista à Gazeta do Povo, o marco entre a revolução e a revelação é de fácil percepção ao longo da narrativa. Abreu inicia o espetáculo com a discussão de assuntos que movimentaram a política no ano de 2006, quando José Dirceu teve se mandato cassado. Ele foi colega de faculdade do político, e construiu uma amizade que já dura mais de 40 anos. Dirceu é um dos personagens de maior destaque do roteiro, com algumas piadas debochadas, porém com poucas, quase imperceptíveis, críticas. Logo após, ocorre o a fase da revelação, momento em que viveu exilado na Europa.

A peça conquista os espectadores pela capacidade do ator em viver tantos personagens – um total de 23 –, todos eles com bastante versatilidade. Ele vai de Caetano Veloso a sua própria mãe, que fez várias interferências no seu caminho, consideradas por Abreu como indispensáveis para denotar o curso de sua vida. Apesar de ter a política como tema principal, não há o tom de crítica, mas sim o ponto de vista próprio do autor com relação aos acontecimentos por ele vividos.

A sua visão esquerdista e a crítica à política de direita é uma característica de Abreu que sobressai no enredo da peça. O ator relata o seu "ideal de vida" quando jovem, que se baseava na tentativa de coibir os impedimentos impostos pela ditadura militar. Ele participou de vários congressos da União dos Estudantes (UNE), evento no qual foi preso e levado para o Carandiru ao lado de vários outros jovens, entre eles o próprio Dirceu.

O congresso aconteceu em Ibiúna, interior de São Paulo, cidade relatada por Abreu como "minúscula", com apenas três a quatro mil habitantes. Ele conta que o município não tinha praticamente nada, diferente do que é visto hoje. Segundo ele, a cidade agora é cenário para "mansões da direita brasileira que enriqueceu ao longo dos anos".

A celebração ao fim da peça é com relação à vitória do presidente Lula no ano de 2002, e sua reeleição em 2006.

Revelação

Durante o monólogo, o ator dialoga com três personagens principais que aparecem em três telões. Desta forma, a peça demonstra dinamismo e deixa de ser propriamente um monólogo, já que o vídeo pré-gravado mostra Abreu caracterizado de outros personagens, com fisionomia bastante diferente da que apresentou agora.

É na viagem para Londres que o autor esbalda comédia e boas piadas. Ele é enviado para lá para falar com Gilberto Gil, no entanto, não sabe onde o cantor reside na capital londrina. A aventura até chegar a Gil é permeada por LSD e muitas "viagens", que chegam por fim ao encontro fatídico. Abreu encarna Caetano, Gil e Roberto Carlos com muita competência, e consegue deixar a comicidade e personalidade de cada um dos "personagens" em evidência.

O diálogo que acontece entre Abreu, Caetano, Gil e Roberto Carlos dentro de um carro é extremamente engraçado. O ator ficar perdido diante da conversa entre os três, o que rende o momento mais divertido de toda a peça.

Por fim, os últimos minutos da peça, ou anos da história, parecem correr rápido demais, e o ator oferece poucos detalhes sobre o que aconteceu após a volta ao Brasil depois de ter ficado exilado na Europa. Vale a pena por se tratar de uma quase biografia de um ator competente e versátil que tem muita história para contar.

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