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Traduzindo: A expressão proteção a conhecimentos tradicionais e repartição de benefícios genéticos confunde tanto quanto a pergunta do caixa do supermercado: "Crédito ou débito?" Tem de dar um pause, mas a resposta sai, do tamanho do bolso do freguês. Vale a comparação: a proteção pode andar junto com a repartição, mas o prazo de cada uma delas é diferente.

Em miúdos: Quem detém o conhecimento tradicional são povos indígenas e comunidades locais, como andirobeiras do Marajó ou quilombolas de Conceição das Crioulas. Durante séculos esses povos e grupos experimentaram aquela erva para dor de estômago ou uma infusão para enxaquecas, comprovando a eficiência dos produtos. Muitos deles estão hoje na forma de comprimido nas farmácias. É só comprar – no crédito ou no débito – mas nem índio do Xingu nem quebradeira de coco recebem um dólar furado por isso.

Toma-cá-dá-lá: Repartição de benefícios genéticos, como se pode deduzir, é uma espécie de plano de pagamentos por usufruto indeterminado da receita da vizinha. Uma encrenca, pois essa conta nunca fecha, ninguém sabe muito bem o tamanho da dívida, como pagá-la ou mesmo se a dívida existe mesmo. Há controvérsias. E dá-lhe empurrar o assunto para a próxima COPMOP.

Na ponta do lápis: Se tem uma coisa que mexe com o cidadão, é conta pendurada. Índios e comunidades tradicionais estão nessa fase – o copo está cheio, porque a indústria de cosméticos e farmacêutica continua recorrendo à natureza para fazer seus produtos. Dados da União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN) mostram que de 150 drogas que circulam nos EUA, 57% trazem pelo menos um elemento oriundo de um país megadiverso. Estima-se que 75% dos compostos usados pela medicina venham dos unguentos, xaropes e anestésicos que já eram usados havia tempos quando a avó da sua avó nasceu.

Resumo da ópera: Recorrer a esses saberes é barato e rápido: de cada 10 mil amostras de plantas pesquisadas pela ciência, para fazer remédios, só uma vai chegar lá. Essa operação pode demorar até 15 anos para ser concluída, a valores inimagináveis até para vencedor da loteca – entre US$ 230 e US$ 500 milhões por produto. Logo, manter o crédito é garantia de débito. Índios e comunidades locais – está provado – além de fontes de informação, são a melhor estratégia para manter a biodiversidade do planeta, que entre outras coisas, fornece remédios e perfumes que a gente compra em farmácias e supermercados.

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