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"Você sabe que é difícil aqui fora para um cafetão/ Quando ele tenta trazer o dinheiro para o aluguel/ Para os cadillacs e a gasolina/ Porque um monte de p* está falando m*". Poderia ser apenas mais um rap barra-pesada sobre a vida no gueto, mas não é. "It’s Hard out Here for a Pimp", tema de Ritmo de um Sonho, ganhou nada menos do que o Oscar 2006 de melhor canção original. Como uma música cheia de palavrões foi reconhecida pela conservadora Academia? Só mesmo assistindo ao filme, em cartaz a partir de hoje em Curitiba, para entender.

A exemplo de Rocky – Um Lutador, Flashdance e 8 Mile – Rua das Ilusões, Ritmo de um Sonho conta a história de alguém prestes a dar uma grande guinada em sua trajetória. Aqui, o personagem central é DJay (Terence Howard, de Crash – No Limite e Ray), um sujeito de seus 30 e poucos anos que sobrevive às custas de traficar maconha e explorar mulheres. Três delas, sendo uma grávida, moram com ele em um bairro negro de Memphis, cidade conhecida por revelar o talento de Elvis Presley. Mas o rock, claro, não faz a sua cabeça.

DJay gosta de hip-hop e tem como referência Skinny Black, um antigo colega das ruas que ascendeu ao posto de astro da música. Quando fica sabendo de uma visita do ídolo ao bar de um de seus "clientes", resolve colocar em prática um plano arriscado: aproveitar a festa para mostrar seu talento como rapper. Com a ajuda de outro amigo de infância, hoje produtor de cantores gospel, o cafetão mexe mundos e fundos para gravar uma fita de demonstração. Vale tudo para conseguir o equipamento necessário, inclusive trocar um microfone por alguns minutos de prazer com uma de suas "funcionárias".

À primeira vista, Ritmo de um Sonho parece um subproduto do já citado 8 Mile – Ruas das Ilusões, sucesso de bilheteria estrelado pelo rapper Eminem (e que também venceu o Oscar de canção original). Mas, ao contrário de seu antecessor, um tanto convencional, o filme do diretor Craig Brewer possui uma pegada atual, com energia de sobra para agradar à geração MTV. Não por coincidência, a emissora musical é uma das produtoras do longa, em parceria com um consórcio de empresas independentes.

Por outro lado, trata-se de uma história ao mesmo tempo tocante e bem-humorada, o que explica o reconhecimento por parte da Academia. Brewer, em total sintonia com o impressionante Terence Howard (indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro por sua atuação), concentra seus esforços no ponto mais universal e profundo do filme: a busca por um sentido na vida.

No caso de DJay, esse sentindo é obtido por meio da música, pela qual ele se expressa e exorcisa seus demônios. Acostumado a uma existência miserável, o aspirante a rapper agora constrói algo importante, ao menos para si próprio e as pessoas próximas. Mal sabe que resgatou sua dignidade e auto-estima, ainda que a meta seja entregar a fita a Skinny Black (o encontro, assim como a gravação de "It’s Hard out Here for a Pimp", está entre as seqüências mais emocionantes dos últimos tempos).

Alguém já disse que "música é vida interior, e quem tem vida interior nunca está sozinho". Soa piegas, mas faz todo o sentido depois de uma sessão de Ritmo de um Sonho. GGGG

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