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Baptiste (Pierre Rochefort) e Sandra (Louise Bourgoin): amor e distâncias sociais | Divulgação
Baptiste (Pierre Rochefort) e Sandra (Louise Bourgoin): amor e distâncias sociais| Foto: Divulgação

Nouvelle vague

Evento exibe clássico de Truffaut na tela grande

Os Incompreendidos, primeiro longa-metragem do diretor francês François Truffaut (1932-1984), um dos nomes fundamentais da nouvelle vague, é um clássico atemporal sobre a infância. O personagem principal, Antoine Doisnel (Jean-Pierre Léaud), que viria a ser, até a idade adulta, o protagonista de uma série de filmes do diretor, é um garoto negligenciado pelos pais e desprezado pelos professores por ser considerado um rebelde irremediável e fadado à autodestruição.

O filme, atração do Festival Varilux neste sábado (às 15h40, no UCI Estação) e domingo (às 15h35, no Espaço Itaú de Cinema), revelou não apenas um diretor genial, mas uma outra forma de fazer cinema. Influenciado pelo neorrealismo italiano, Truffaut levou a câmera para as ruas de Paris, e para dentro da vida de Antoine, alter ego de Truffaut, que também teve uma infância à deriva. O longa venceu o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes em 1959. Vê-lo na tela grande é uma oportunidade imperdível.

  • Antoine Doisnel (Jean-Pierre Léaud): infância à deriva

A sessão de abertura do Festival Varilux de Cinema Francês, realizada quinta-feira no Kinoplex Leblon, no bairro da zona sul do Rio de Janeiro, teve um contratempo inesperado. Yves Saint Laurent, filme de Jalil Lespert, que deveria inaugurar a mostra, não foi exibido em decorrência de um problema técnico com a cópia digital, para frustração do cineasta que, segundo apurou a reportagem da Gazeta do Povo, vestia camisa e sapatos da grife do célebre estilista francês para a concorrida projeção.

No lugar de Yves Saint Laurent, foi exibido o drama Um Belo Domingo, dirigido pela atriz e cineasta Nicole Garcia. Em entrevista à Gazeta do Povo horas antes, a diretora fez questão de lembrar que os brasileiros a conhecem, sobretudo por conta do drama musical Retratos da Vida, de Claude Lelouch, que fez enorme sucesso no Brasil – em Curitiba, ficou em torno de um ano em cartaz. No filme, uma história que se estende por décadas a partir da Segunda Guerra Mundial, ela fez um dos papéis principais, Anne Meyer. Nicole também tonou-se conhecida internacionalmente por sua participação no clássico Meu Tio da América (1980), de Alain Resnais, cineasta que faleceu mês passado.

Às vésperas de completar 68 anos, Nicole diz hoje preferir trabalhar atrás das câmeras do que como atriz, embora siga atuando em filmes e no teatro. Desde que, meio ao acaso, fez seu primeiro curta-metragem, 15 Août (15 de Agosto), em 1986, "quase que como uma brincadeira", Nicole diz ter tido "uma revelação" e não parou mais. Tem longas importantes, como Place Vendôme (1998), em que dirigiu Catherine Deneuve, que venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza pelo longa; e O Filho Preferido (1994), estrelado por Gérard Lanvin, Cesar de melhor ator por seu desempenho.

Distâncias

Em Um Belo Domingo, Nicole, a realizadora, se reafirma como uma hábil e sensível autora de dramas centrados em personagens muito bem delineados e profundamente humanos, sua marca registrada. O filme, em exibição no Varilux, conta a história de Baptiste (Pierre Rochefort), um professor de escola primária no interior da França que se comove com a situação de um aluno, Mathias (Mathias Brezot), que parece ser um estorvo tanto para o pai quanto para a mãe, a garçonete Sandra (Louise Bourgoin).

Baptiste, de certa forma, se identifica com o menino. Ele mesmo, filho de uma família rica e burguesa, foi colocado de lado, quando apresentou, na juventude, sintomas de depressão e foi internado como se fosse uma anomalia. Tampouco foi aceita sua escolha de se tornar professor, uma espécie de missão redentora: o ofício lhe dá o poder de ajudar jovens que, como ele, tiveram dificuldades para se encontrar na vida.

Para Nicole, aspectos sociológicos de sua trama vêm à tona naturalmente. "Não é minha intenção analisar a sociedade francesa, mas é verdade que temos distâncias sociais preocupantes. Isso faz parte da história, porém discutir esse tema não é um fim em si mesmo", conta.

Para viver o papel de Liliane Cambière, a mãe de Baptiste, uma mulher centralizadora e algo autoritária, Nicole convidou a estrela Dominique Sanda, atriz famosa por seus trabalhos nos hoje clássicos 1900 e O Conformista, de Bernardo Bertolucci. "Ela saiu de uma semi-aposentadoria, em Buenos Aires, para fazer o filme. Eu acho que os atores gostam de trabalhar comigo, porque busco o melhor deles. Talvez por também ser atriz, e escrever e dirigir pensando muito nos que são capazes de fazer", conta.

Quando Baptiste se envolve com Sandra, mãe de Mathias, a família dele o repele, por estar ao lado de alguém que não pertence ao seu mundo. "Eu prefiro acreditar que eles têm chance de ser felizes. Baptiste faz uma opção muito clara, que é deixar o passado para trás, distanciar-se dos que o rejeitaram, e abraçar um futuro com aquela mulher e seu filho. Não vejo como um final feliz tradicional, mas como um desfecho possível, otimista."

O jornalista viajou a convite do festival.

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