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O Teatro Guaíra foi criado no decorrer da década de 50 e logo se transformou em um dos pilares da vida cultural do paranaense. Em 1956, por exemplo, estatísticas do IBGE indicavam que o teatro abrigou 241 eventos cujo público total somava 46% da população de Curitiba (que na época não alcançava meio milhão de habitantes).

A instituição cresceu e hoje é um centro cultural que congrega quatro auditórios (Guairão, Guairinha, Mini Auditório e Teatro José Maria Santos) e conta com quatro corpos estáveis (Escola de Dança Teatro Guaíra, G2 Cia. de Dança, Balé Teatro Guaíra e Orquestra Sinfônica do Paraná). Também é responsável pelo Festival Espetacular de Teatro de Bonecos, as produções do Teatro de Comédia do Paraná, a Mostra em Língua Espanhola, os Corredores Culturais do Mercosul e o Programa Paranização, que atinge quase a totalidade dos municípios do Paraná. Mas, entre o meio artístico, há quem acredite que o Guaíra tem seu potencial subaproveitado.

"Neste ano, quantas peças de teatro de outras companhias tiveram o apoio do Teatro Guaíra? Quantas co-produções foram realizadas? Nenhuma. Hoje o Guaíra não é um espelho do teatro curitibano, que se envolve e busca diálogo com a classe artística, mas apenas um produtor cultural que cumpre uma agenda", analisa o diretor teatral Edson Bueno. O artista elogia as ações dos corpos estáveis e sugere que elas sejam ampliadas. "O Guaíra muitas vezes faz um trabalho interessante e de qualidade, mas é muito tímido. O teatro de comédia, por exemplo, realiza uma peça por ano e fica por isso mesmo. Eles deveriam ampliar sua atuação", sugere.

Para o iluminador paranaense Beto Bruel, um dos mais respeitados do país, o Teatro Guaíra provou no seu passado que pode produzir mais. "No início dos anos 90, o Teatro de Comédia do Paraná fazia três peças por ano, convidando gente de fora, o que ajuda muito a arejar e movimentar a classe", afirma. Naquele período, nomes de prestígio, como o diretor Ademar Guerra e o iluminador Alciro Goes, estiveram em Curitiba. "Isso ajudou a formar uma geração de atores como Luís Mello, Guta Stresser entre tantos outros", afirma Bruel, sugerindo intercâmbios e trocas.

A atriz e diretora artística do Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG), Nena Inoue, afirma que a instituição oferece abertura para a participação da classe. "Nessa gestão, pela primeira vez, o Teatro de Comédia foi aberto para receber sugestões de montagens de outros diretores, resultando no espetáculo Memórias, que teve nove apresentações no interior do estado e agora está indo para o Rio. Há abertura e diálogo, mas não por editais de co-produções", afirma. Ela questiona se a co-produção é a melhor maneira de aplicar recursos, alegando que o método pode levar à pulverização do dinheiro. "Por outro lado, a ampliação das nossas ações depende de questões operacionais e orçamentárias. Dentro do que dispõe, o Guaíra realiza um trabalho considerável, o que provam alguns recordes de público que temos alcançado", afirma Inoue, que assumiu a diretoria artística em 2004.

Orquestra e Balé

Hoje, a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) é formada predominantemente por servidores públicos concursados (são 49). Outros 20 estão trabalhando sob contratos temporários que expiram ao término de 2006. Não há indícios do que acontecerá com as vagas e com os músicos quando os contratos acabarem, levando a um problema iminente.

De acordo com o presidente da Associação de Músicos da OSP, Acácio Weber, fala-se na realização de um novo concurso público para preenchimento das vagas. "Espero a realização de um concurso até o fim ou início do próximo ano. Assim, seriam preenchidas pouco mais de 20 vagas e o número de músicos alcançaria 75", afirma. Da maneira que opera hoje, a orquestra pode trabalhar com repertório limitado. Execuções de determinados programas demandam mais de cem instrumentistas. Nesses casos, o Guaíra realiza contratações pontuais, o que eleva o custo dos concertos.

No Balé, a situação é parecida. "No nosso caso, mais da metade dos dançarinos tem contrato provisório. Contratações isoladas resolvem uma apresentação, mas abalam a visão do balé como um corpo estável, que deve ter uma linha de pesquisa e atuação contínua", afirma a bailarina Eleonora Greca, há 30 anos integrante do corpo estável. Para ela, o Guaíra sofre com a falta de vontade política dos governos que, ao longo de mais de 12 anos, diz a bailarina levaram ao sucateamento dos departamentos. "Desde que deixou de ser Fundação e virou Centro Cultural, o Guaíra perdeu autonomia. Hoje, a instituição precisa melhorar sua comunicação, precisa ser capaz de transitar no mundo da política, iniciativa privada e arte", afirma, sugerindo a criação de um departamento de marketing.

"O que mais incomoda nos grupos estáveis é a ausência de um projeto artístico maior. Tenho boa relação com o maestro titular (Alessandro Sangorgio), mas percebo uma dificuldade, dentro do Guaíra, na concretização de algumas iniciativas usuais em outros lugares do mundo, como uma política de encomenda de obras, uma prioridade aos compositores brasileiros e a formatação de mais programas", sugere o compositor Harry Crowl. Ele conta que já viu cidades menores e com recursos equivalentes promovendo programações mais intensas e ousadas.

Nena Inoue afirma que a OSP alcançou públicos recordes nos últimos anos, e destaca o retorno às montagens de óperas. "A orquestra chegou a apresentar três concertos novos por semana e tocou, em turnê, em sete cidades do interior". Ela também destaca a implantação de um conselho artístico para discussão da agenda e repertório da OSP, formada pelo maestro titular, a diretoria artística, o spalla (principal violinista) da orquestra e um respresentante administrativo. "Isso representa uma abertura inédita para os músicos", diz. Inoue afirma, ainda, que a ampliação das programações está atrelada às questões orçamentárias e operacionais. Segundo a diretora, a situação contratual dos artistas comissionados está sendo tratada pela secretaria administrativa do Guaíra.

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