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Obras de Guilmar Silva, após sua morte, continuam no ateliê da casa em que vivia | Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Obras de Guilmar Silva, após sua morte, continuam no ateliê da casa em que vivia| Foto: Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
  • Constantino Viaro inaugura, no próximo dia 10, um museu feito com recursos próprios

O incêndio de parte do legado do artista plástico carioca Hélio Oiticica (1937-1980), na casa de seu irmão, César Oiticica, no Rio de Janeiro, no dia 16 de outubro, também pôs fogo em uma discussão que, a cada nova tragédia como essa, é retomada sem que, no entanto, se chegue a soluções práticas.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, convocou uma reunião para o próximo dia 9 com representantes de todos os setores relacionados à aquisição e preservação de obras de arte para discutir medidas que possam ser tomadas pelo governo federal e que combatam o abandono de boa parte do patrimônio artístico nacional.

Sem uma política de aquisição de acervos prevista em lei e com poucos recursos, as intituições brasileiras adotam como práticas mais comuns o acolhimento de doações e o comodato.

A Fundação Cultural de Cu­­ri­­tiba adota esta última prática para manter em sua posse coleções como a do artista Mohammed Ali el Assal (1958-1987). Também recebe inúmeras doações como parte do acervo de Poty Lazzarotto (1924-1998), feitas pelo próprio artista e, mais recentemente, gravuras de Faiga Ostrower (1920-2001). "Tudo está mantido em reservas técnicas dentro das normas internacionais", explica o coordenador da Divisão de Acervos de Arte da FCC, Rodrigo Marques.

A Secretaria de Estado da Cul­tura segue os mesmos princípios. Em comodato, por exemplo, está quase todo o acervo da Casa João Turin. Há doações significativas, como o acervo do extinto banco Bamerindus, formado por quase 1,2 mil obras, e uma grande coleção formada por obras que receberam o prêmio aquisição ao longo dos mais de 60 anos do Salão Paranaense, realizado pelo Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC.

A coordenadora do Sistema Estadual de Museus (Cosem), Eliana de Moro Réboli, conta que a Seec, por vezes, compra acervos. Em 2004, por exemplo, adquiriu 10 mil peças da coleção de Davi Carneiro. "Mas a aquisição é difícil, porque não temos verba. Muitas vezes, as Associações dos Amigos dos Museus conseguem apoio de empresas e adquirem obras como o acervo do Museu Alfredo Andersen", conta.

Em família

Por vezes, as famílias preferem manter o acervo em sua posse. "É engano pensar que as obras estarão mais preservadas na casa de particulares do que em um museu porque é muito difícil adequar o espaço com os cuidados técnicos necessários e dar tratamento contínuo às obras", diz Eliana.

Mesmo cientes disso, os filhos de Guilmar Silva (1943-2008), a administradora Fabiana Wendler e o designer Sílvio Silva, optaram por manter o acervo da artista no ateliê da casa onde ela vivia, hoje alugada. Logo após sua morte, a amiga e artista Teca Sandrini inscreveu um projeto na Lei Municipal de Incentivo à Cultura (que Guilmar ajudou a remodelar como coordenadora de Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba) para a realização de uma exposição retrospectiva e um livro.

Depois da mostra, realizada em maio deste ano no Solar do Barão, algumas gravuras ficaram em posse da FCC. "Lá elas estão melhor armazenadas, já que o papel exige um cuidado maior", diz Fabiana que, no entanto, prefere adiar a opção do comodato. Ela não tem dúvidas de que a FCC cuidaria bem das obras da mãe, que foi funcionária do órgão por 22 anos. "Mas queremos que as obras circulem e, além disso, há sempre insegurança a cada mu­­dança de gestão."

Fabiana considera que a co­­mer­­cialização das obras ainda é a melhor solução. "Quem compra, cuida e põe na parede, faz a obra circular, mas é difícil encontrar quem tenha condições financeira de adquirir", explica. En­­quan­­to isso, os irmãos organizam ou­­tras exposições e catalogam as obras em livros. "Espero nunca passar pelo que a família de Oiticica está passando. No ateliê as obras estão vulneráveis. Che­­guei a pensar em montar um es­­paço cultural, mas quem é que tem dinheiro?", diz a filha.

Essa, a da criação de um espaço, foi a opção adotada por Cons­­tantino Viaro para perpetuar o legado do pai, Guido Viaro (1897 – 1971). Com recursos próprios e a ajuda dos três filhos, que rasparam suas poupanças, Constantino comprou e reformou o casarão de 1930, à Rua XV de Novembro, 544, que vai abrigar, a partir do dia 10 de novembro, parte do acer­­vo de 300 óleos sobre tela, 700 desenhos e 300 gravuras da coleção familiar.

O acervo de Constantino era o cerne do antigo Museu Guido Viaro, inaugurado em março de 1975 e fechado durante a administração de Rafael Greca. "Havia um abandono total. Roubaram 40 desenhos, o local não tinha desumidificador, chovia dentro", diz ele, que levou os quadros para casa e, aí sim, perdeu o sossego. "Nossa casa virou lugar público. Você é vítima de ser filho de artista, mas ao mesmo tempo, tenho muito prazer em mostrar."

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