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Hábito

Preço ainda é impedimento

Especialistas acreditam que dinheiro do Vale-Cultura pode ajudar trabalhador a criar o costume de frequentar eventos culturais

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Manifestações artísticas nas ruas com público recorde e filas quilométricas para ver exposições internacionais como Impressionismo: Paris e a Modernidade, que teve até "virada" durante a madrugada em 2012 no Rio de Janeiro e em São Paulo são alguns indícios de que há uma demanda para espetáculos culturais no Brasil. Entretanto, é reprimida, principalmente por conta do preço dos ingressos, como aponta o Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2011. De acordo com a pesquisa, mais de 71% dos entrevistados dizem que os valores são um obstáculo ao acesso à oferta cultural.

Para profissionais da área entrevistados pela Gazeta do Povo, o benefício do Vale-Cultura deve contribuir para que se crie esse hábito no Brasil. Já que, ainda segundo o levantamento do Ipea, mesmo com tempo livre, mais de 40% das pessoas dizem se ocupar do trabalho com a casa, compras e outras atividades sociais ao invés de investir o tempo em cinema, teatro, shows ou museus. Nessas quatro manifestações culturais, mais de 80% das pessoas responderam que nunca ou raramente realizam essas atividades. O lazer do brasileiro costuma ser assistir à televisão ou a DVDs – 78% dizem ver um deles todos os dias –, dado que mostra a decisão coerente da ministra da cultura, Marta Suplicy, de ter voltado atrás (após várias críticas), na possibilidade de que o vale pudesse ser usado também para pagamento de televisão por assinatura.

A gerente de cultura do Sesi Paraná, Ana Zétola, crê que os R$ 50 na mão do trabalhador o ajude a "abrir a cabeça". "Ele vai sair da televisão e do bar e usar seu tempo livre com criatividade." Além disso, Ana acha que o poder de compra dará a sensação de pertencimento. "As pessoas vão ao futebol porque se sentem parte daquilo. E isso vai acontecer com a cultura." Frequentar o ambiente, segundo a diretora do Museu de Arte Contemporânea e Casa Andrade Muricy, Lenora Pedroso, é o que gera assiduidade. "Uma coisa vai puxando a outra. Primeiro, você vê uma comédia, depois, um drama. A pessoa passa a ter vontade de participar."

Apesar de os R$ 50 do vale serem os mesmos do projeto proposto em 2009 pelo então governo Lula, e de não ter existido reajuste de acordo com a inflação, o poder de compra ainda é alto, diz o presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), Diego Drummond e Lima. "No caso do livro, um título pode ser disseminado para várias pessoas da família e amigos." Segundo a Câmara Brasileira do Livro, o preço médio de uma obra literária no Brasil hoje é de R$ 39,90, sendo que livros de não ficção chegam a R$ 44, consumindo boa parte do benefício. Entretanto, Drummond espera que, com mais leitores, o valor caia.

Formação

A gerente-executiva do Sesc Paço da Liberdade, Celise Niero, concorda com a política, mas salienta que é necessário pensar na formação de plateia. "Vai caber a nós, produtores, intensificar essas ações." Lenora Pedroso compartilha da mesma preocupação. "Na verdade, o grande passaporte para a pessoa usufruir da cultura é a educação. Uma criança que vai a museus desde pequena será uma frequentadora no futuro." A produtora-executiva da Moro Filmes, Diana Moro, espera que o benefício crie não só um hábito de compra. "Fico preocupada se vamos conseguir fazer essa formação cultural, de ser algo prazeroso, e não uma obrigação. Mas, defendo essa preocupação do governo de possibilitar um consumo que não faz parte do cotidiano. A cultura só se faz fora de casa. Meu sonho é ver pessoas que nunca entraram num cinema entrarem pela primeira vez."

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