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Dinheiro

Veja alguns exemplos de atividades culturais possíveis de se fazer com os R$ 50 do Vale-Cultura:

Apresentações Locais

Com o benefício, é possível assistir, acompanhado, a uma apresentação da nova temporada de shows no Teatro Paiol 2013. Cada ingresso, caso pague inteira, custa R$ 25, e estão programados para os próximos meses apresentações de bandas como Hurtmold, de São Paulo e do rapper Rael. No Teatro Sesi, será possível ver apresentações como a de Rolando Boldrin por R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada e trabalhadores do Sistema Fiep).

Megashows

Como o benefício de R$ 50 é cumulativo, ou seja, o trabalhador pode não usar o vale por vários meses, se assim desejar, será possível se programar com frequência para poder assistir a espetáculos de artistas internacionais. A espera, no entanto, será longa: caso o benefício já estivesse em vigor, o trabalhador precisaria poupá-lo durante seis meses para ver Chuck Berry na plateia superior no Teatro Positivo (R$ 295).

Livro

O preço médio de uma obra literária no Brasil, de acordo com a Câmara Brasileira do Livro (CBL), é de R$ 39,90. Livros de ficção custam R$ 31, não ficção R$ 44 e infantojuvenil R$ 28, diz a CBL, todos dentro do orçamento de R$ 50. Com o vale, seria posssível comprar títulos como Toda Poesia,, de Paulo Leminski (cujo preço varia de R$ 46 a R$ 36). Há ainda romances como O Lado Bom da Vida, por R$ 19,90, deixando um saldo de R$ 30,10.

Dança

Caso o trabalhador já fosse beneficiado com o Vale-Cultura, ele poderia usar o dinheiro para comprar ingressos para ver espetáculos da primeira edição do Festival O Boticário na Dança, que será realizado de 7 a 9 de maio no Teatro Guaíra, às 21 horas, e trará ao Brasil quatro das maiores companhias de dança do mundo. Os bilhetes custam de R$ 30 a R$ 50 (inteira) e de R$ 15 a R$ 25 (meia), de acordo com o assento escolhido.

Festival de Teatro

No Festival de Teatro de Curitiba, que começa na terça-feira, o ingresso para a mostra principal, que conta com 32 espetáculos, custará R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada). Com esse preço, o Vale-Cultura poderia cobrir boa parte do valor, mas, ainda assim, o espectador precisaria investir mais R$ 10 para ver uma peça, isso sem incluir os custos extras como transporte. No Fringe (mostra paralela), o bilhete vai de gratuito a R$ 40.

Cinema

Nos finais de semana, o valor mais alto nas redes de cinema atinge, em média, R$ 18. Duas pessoas, portanto, gastam R$ 36, considerando apenas os ingressos. Levando em conta uma família de quatro pessoas, com duas delas pagando meia-entrada, o Vale-Cultura de R$ 50 é insuficiente, e será necessário desembolsar mais R$ 4. Já em dias promocionais, com valor da inteira a uma média de R$ 7, seria possível assistir, sozinho, a sete filmes em um mês.

Manifestações artísticas nas ruas com público recorde e filas quilométricas para ver exposições internacionais como Impressionismo: Paris e a Modernidade, que teve até "virada" durante a madrugada em 2012 no Rio de Janeiro e em São Paulo são alguns indícios de que há uma demanda para espetáculos culturais no Brasil. Entretanto, é reprimida, principalmente por conta do preço dos ingressos, como aponta o Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2011. De acordo com a pesquisa, mais de 71% dos entrevistados dizem que os valores são um obstáculo ao acesso à oferta cultural.

Para profissionais da área entrevistados pela Gazeta do Povo, o benefício do Vale-Cultura deve contribuir para que se crie esse hábito no Brasil. Já que, ainda segundo o levantamento do Ipea, mesmo com tempo livre, mais de 40% das pessoas dizem se ocupar do trabalho com a casa, compras e outras atividades sociais ao invés de investir o tempo em cinema, teatro, shows ou museus. Nessas quatro manifestações culturais, mais de 80% das pessoas responderam que nunca ou raramente realizam essas atividades. O lazer do brasileiro costuma ser assistir à televisão ou a DVDs – 78% dizem ver um deles todos os dias –, dado que mostra a decisão coerente da ministra da cultura, Marta Suplicy, de ter voltado atrás (após várias críticas), na possibilidade de que o vale pudesse ser usado também para pagamento de televisão por assinatura.

A gerente de cultura do Sesi Paraná, Ana Zétola, crê que os R$ 50 na mão do trabalhador o ajude a "abrir a cabeça". "Ele vai sair da televisão e do bar e usar seu tempo livre com criatividade." Além disso, Ana acha que o poder de compra dará a sensação de pertencimento. "As pessoas vão ao futebol porque se sentem parte daquilo. E isso vai acontecer com a cultura." Frequentar o ambiente, segundo a diretora do Museu de Arte Contemporânea e Casa Andrade Muricy, Lenora Pedroso, é o que gera assiduidade. "Uma coisa vai puxando a outra. Primeiro, você vê uma comédia, depois, um drama. A pessoa passa a ter vontade de participar."

Apesar de os R$ 50 do vale serem os mesmos do projeto proposto em 2009 pelo então governo Lula, e de não ter existido reajuste de acordo com a inflação, o poder de compra ainda é alto, diz o presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), Diego Drummond e Lima. "No caso do livro, um título pode ser disseminado para várias pessoas da família e amigos." Segundo a Câmara Brasileira do Livro, o preço médio de uma obra literária no Brasil hoje é de R$ 39,90, sendo que livros de não ficção chegam a R$ 44, consumindo boa parte do benefício. Entretanto, Drummond espera que, com mais leitores, o valor caia.

Formação

A gerente-executiva do Sesc Paço da Liberdade, Celise Niero, concorda com a política, mas salienta que é necessário pensar na formação de plateia. "Vai caber a nós, produtores, intensificar essas ações." Lenora Pedroso compartilha da mesma preocupação. "Na verdade, o grande passaporte para a pessoa usufruir da cultura é a educação. Uma criança que vai a museus desde pequena será uma frequentadora no futuro." A produtora-executiva da Moro Filmes, Diana Moro, espera que o benefício crie não só um hábito de compra. "Fico preocupada se vamos conseguir fazer essa formação cultural, de ser algo prazeroso, e não uma obrigação. Mas, defendo essa preocupação do governo de possibilitar um consumo que não faz parte do cotidiano. A cultura só se faz fora de casa. Meu sonho é ver pessoas que nunca entraram num cinema entrarem pela primeira vez."

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