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Depois de quase dez minutos de propaganda institucional, um bailarino começa a se desmanchar em silêncio, envolto apenas por um monte de areia. Logo entra a primeira nota, retumbante como um quadro de Monet: estamos diante de "A Sagração da Primavera", clássico do russo Igor Stravinsky, que abriu a programação do Balé Teatro & Cias Guaíra, na última quinta-feira (13).

O que se viu, em pouco mais de meia hora, foi uma representação intensa do auge da subversão estética musical, a história de ares pagãos da mulher que é oferecida aos deuses da primavera e tal. Mas o mote pouco importa. O que "A Sagração" traz em matéria de grandiosidade é a simbiose perfeita entre dança e partitura, um assombro, como se tudo existisse para virar melodia e corpo.

O mais famoso escândalo da história da música erudita impressiona ao vivo – é bom ressaltar que a coreógrafa portuguesa toma algumas liberdades interpretativas em relação à execução de Diaghilev. Ela lê Stravinsky como um glorificador de extremos, possuído, à beira de atravessar a escuridão. E se há ou não há redenção depois, uma certeza: somos e sempre seremos primitivos – o que é uma ironia, já que "A Sagração" inaugura o balé moderno.

A lamentar, a ausência de uma orquestra, que daria maior peso e a intensidade de alturas e delicadezas que a obra de Stravinsky pede. GGGG

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