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O Primus permanece tão esquisito e inclassificável quanto em seu começo, na década de 80 | Divulgação
O Primus permanece tão esquisito e inclassificável quanto em seu começo, na década de 80| Foto: Divulgação
  • CD:Green Naugahyde- Primus. Preço médio: R$ 27,90. Lab 344. Rock.

É inegável: o rock mudou nos últimos 30 anos. Mesmo assim, entre novos rótulos e novas vertentes, a música maluca do Primus, trio californiano criado na década de 80 pelo lendário baixista Les Claypool, permanece um mistério no que se refere à sua classificação e continua também eternamente à margem de uma cena teoricamente muito mais aberta a transgressões. Comprova a tese Green Naugahyde, disco lançado no final do ano passado que chegou este ano às lojas brasileiras, mais de dez anos após seu último trabalho de estúdio, Antipop (1999).

Green Naugahyde é um álbum com traços mais sombrios que os anteriores do Primus – sem contudo, perder o humor —, com músicas que mantêm o caráter de rock progressivo da banda misturado ao groove característico do funk metal, que influenciou uma geração de artistas da mesma época, como Red Hot Chili Peppers e Infectious Grooves. A banda abusa dos efeitos sintetizados nos instrumentos e o vocal é constantemente distorcido por um microfone lo-fi. Ainda assim, há uma maior preocupação em se fazer palatável, até hoje uma das últimas prioridades do Primus.

Mantendo o costume de álbuns como Sailing in the Seas of Cheese (1991) e Pork Soda (1993), o disco abre com uma introdução: "Prelude to Crawl", que dá sequência a "Hennepin Crawler", uma faixa sombria com uma batida que gruda na cabeça. A abertura de Green Naugahyde, entretanto, não é o único diálogo com trabalhos anteriores. A terceira faixa, "The Last Salmon Man", fecha a quadrilogia "The Fisherman Chronicles", composta pelas músicas "John the Fisherman", "Fish On" e "The Ol’ Diamondback Sturgeon", unidas pela temática do mar e pelas populares histórias de pescador.

De longe, a faixa mais pop do disco, "Tragedy’s a’Comin" é a música de trabalho da vez. Com uma levada psicodélica, os arranjos alternam o tempo todo entre o experimentalismo e o mainstream, e o resultado é esquizofrênico, porém brilhante. A letra, que fala de males iminentes, é tão intangível quanto seu clipe, que contempla um restaurante especializado em frutos do mar, enquanto Les Claypool canta em uma praia vestido de lagosta e um astronauta atravessa uma floresta montado em um cavalo.

Por último, outras duas músicas se destacam no disco: "Eyes of the Squirrel", que tem uma bateria original, para dizer o mínimo, e "Lee Van Cleef", em que Les Claypool assume sua predileção pelos marginalizados e diz que enquanto seus amigos querem ser como Clint Eastwood, ele admira o vilão do filme clássico Três Homens em Conflito.

Green Naugahyde pode não ser o trabalho mais brilhante do Primus, mas é um excelente disco, principalmente levando-se em conta a longevidade da banda e a constância que manteve em sua qualidade. Não se pode dizer exatamente que atinge com ele um nível de maturidade – palavra que não combina com um trio que não se importa em não ser levado a sério – mas o Primus está definitivamente envelhecendo bem, sem perder jamais a insanidade. GGGG

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