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Longe da realidade vivida pelos gêmeos Omar e Yaqub, protagonistas do livro Dois Irmãos, os também gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá vivem uma unidade perfeita no processo de criação de quadrinhos. É deles a adaptação do livro de Milton Hatoum para o universo das HQs, recém-lançada no Brasil e também na França (onde recebeu o nome Deux Frères), pela Companhia das Letras. Contagiados pela nova obra – a segunda adaptação deles de um clássico brasileiro para os quadrinhos – os premiados gêmeos paulistas contam suas impressões sobre a trajetória da produção, que teve como um dos principais desafios manter o estilo narrativo do livro original de Hatoum – considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira contemporânea.

Depois de levarem O Alienista para os quadrinhos, agora foi Dois Irmãos. De onde veio essa escolha?

Gabriel: A fagulha inicial veio de André Conti [editor da Companhia das Letras]. Foi um dia em que a gente estava na Flip [Feira Literária Internacional de Paraty], em 2009. O Milton [Hatoum, autor de Dois Irmãos] estava também. Fomos todos jantar e o André questionou como seria legal fazer Dois Irmãos em quadrinhos. Nós já tínhamos lido o livro e dissemos, na hora, que iria dar muito trabalho. Mas foi uma questão que ficou como pulga atrás da orelha de todo mundo. A Companhia das Letras passou a insistir e acabamos aceitando.

Quanto tempo levou o trabalho?

Gabriel: Quatro anos, praticamente. Começamos no final de 2010 e acabou em setembro do ano passado.

Como foi o processo de adaptação?

Fábio: Toda a história em quadrinhos tem que ter uma boa história. E temos que usar a linguagem dos quadrinhos para contar essa boa história. A gente queria que tivesse o estilo narrativo do Milton, que é uma das grandes qualidades do livro, mas também pensando em imagens que podem contar a história de maneira mais forte. Mas o principal foi manter essa alma da história. Nisso que nos baseamos para escolher o que iria para o livro.

Quadrinhos

Dois Irmãos

Fábio Moon e Gabriel Bá. Adaptação da obra de Milton Hatoum. Companhia das Letras, 232 pp., R$ 39,90.

Vocês mantiveram contato com Hatoum durante a produção? Ele interferiu?

Fabio: Não. Ele não interferiu. A gente encontrou com ele algumas vezes. Antes de ler e reler, a gente fez uma viagem para Manaus, para entender a cidade onde se passava a história. Depois que a gente voltou, fomos conversar sobre isso, entender qual era a cidade que a gente tinha que retratar no livro. Trabalhamos no roteiro por dois anos sem ter muito o que mostrar para o Milton. A gente só foi conversar quando começamos a criar visualmente os personagens, a casa. Ele foi essencial para, por exemplo, o estilo que a gente vai retratar a Zana. Tínhamos outras imagens na cabeça, mas ele apontou para o lado certo. Gabriel: A gente só deixava ela a par sobre a evolução do trabalho.

Adaptação capta a essência de Dois Irmãos

Vencedores do Prêmio Jabuti de melhor livro didático pela adaptação de O Alienista (de Machado de Assis) para os quadrinhos, em 2008, os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá resolveram encarar a obra Dois Irmãos, um dos principais romances da literatura brasileira contemporânea, escrito por Milton Hatoum.

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É mais fácil criar uma história em quadrinhos ou adaptar?

Gabriel: Quando você escreve uma história você parte do zero. Começa a colocar os elementos e pode ir tirando como bem entender. Quando está adaptando, é preciso escolher os elementos que vão entrar. Você põe estes elementos, tira, coloca outros...é um pouco mais difícil, porque você tem que ser fiel. É como se fosse uma escolha a mais para fazer.

Então escolher o que vai para a obra é o mais difícil nesse processo...

Fábio: É. Escolher como a gente iria contar, o que deixar de fora. O que a gente achava que é essencial, essa é uma parte difícil. Para cada leitura que a gente fazia achava que tudo era importante. Aos poucos a gente vai fazendo as escolhas. Aí vem a parte de adaptação. Muita coisa que escolhemos virou imagem. E tudo o que transformamos em imagem exigia uma releitura. Lemos e relemos os capítulos várias vezes.

Já pensam em uma nova adaptação para os quadrinhos?

[Risos]. Fábio: Agora vamos dar um tempo. A primeira sensação que a gente tem quando termina é “Legal! Conseguimos e ficou bacana”. Mas todo o processo leva muito tempo. Vamos esperar mais um pouco.

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