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O curitibano Sérgio Soares voltou à terra natal nesta semana. Vem de Paris, onde mora atualmente. A capital francesa é uma das cidades mais caras do mundo. De volta a Curitiba, decidiu ir ao Teatro Guaíra. Queria mostrar o lugar à amiga Martine, que trouxe para conhecer o Brasil. Na hora de comprar os ingressos, tomaram um susto. "Estão cobrando os mesmos preços que na França". "Duvido que as pessoas ganhem o mesmo que em Paris", diz Sérgio, que acabou não comprando entradas para qualquer show.

Entre as opções da semana no Guaíra estava a banda carioca Los Hermanos. Um lugar nas primeiras filas da platéia custava R$ 80. Preço que tem sido comum no teatro. Na semana passada, a principal atração do Guairão era A Casa dos Budas Ditosos, com Fernanda Torres. Preço: R$ 60. No próximo mês, quem quiser ver Zezé di Camargo e Luciano na platéia pagará até R$ 160. Sem falar em casos excepcionais, como o da vinda da Orquestra Filarmônica de Israel, há três semanas. O concerto, que era beneficente, teve ingressos de até R$ 350, com direito a um coquetel com o maestro Zubin Mehta.

A francesa Martine Bigot, que estava com Sérgio, chegou à uma conclusão óbvia. O acesso à cultura, desse modo, fica restrito a uma elite econômica, que é quem pode bancar ingressos a preços mais altos. E os envolvidos na produção dos espetáculos concordam. "É caro. Tenho consciência disso", diz Verinha Walflor, uma das produtoras especializadas em trazer artistas de renome nacional para Curitiba. Apesar de querer cobrar preços menores, ela diz que isso é impossível. "Os custos são muito altos. Mesmo com o ingresso a esse preço, você acaba não pagando tudo", conta.

Verinha diz que a culpa dos preços altos começa com os artistas – que, na opinião da produtora, cobram valores altos demais para cada apresentação – e termina nos órgãos públicos (que põem as taxas e impostos em níveis elevados). No meio do caminho, ainda há um outro empecilho. "Os ingressos já eram caros antes da Lei do Estudante. Agora ficaram ainda mais caros, porque é o único jeito que temos de dar o desconto exigido pela lei", argumenta Verinha.

Altair Dorigo, diretor administrativo do Centro Cultural Teatro Guaíra, conta que a maior parte dos espetáculos que chega ao teatro conta, desde o início, com a possibilidade de vender metade de seus ingressos para estudantes. Assim, o preço final nunca é "real", segundo ele. Cobra-se R$ 60 de todos, porque sabe-se que metade pagará R$ 30. E o preço médio, assim, passa a ser R$ 45. O que, na verdade, era o que seria cobrado de todos, caso o ingresso fosse único.

"Já se ouvem propostas até de colocar uma cota de ingressos que seria vendida para estudantes", diz o diretor. Até o momento, nenhum projeto desse tipo foi levado adiante. "O problema, na verdade, é que hoje é muito fácil falsificar essas carteirinhas", conta. Altair diz que um produtor de eventos deu a ele a prova de que não há como fiscalizar os documentos. "Ele me mostrou seis carteiras no nome dele, todas falsas. Me pediu uma foto e, em poucas horas, fez uma com o meu nome, só para me mostrar como era fácil", diz.

Outro vilão no preço do ingresso é o poder público. Já de cara, ao pensar na bilheteria, é preciso ter em conta que 11,33% de tudo o que for arrecadado será pago ao governo federal, em impostos como PIS e Cofins. Sem contar os 5% ou 10% do Ecad, órgão encarregado do pagamento de direitos autorais para música. No caso do teatro, os direitos são negociados diretamente com os autores, adaptadores e tradutores das peças.

O município também fica com uma parte do bolo. É o Imposto sobre Serviços (ISS). Em Curitiba, o valor cobrado equivale a 5% de toda a bilheteria. O que é considerado muito alto por produtores acostumados a outras capitais. "No Rio de Janeiro, essa cobrança nem existe. E, em Belo Horizonte, é de 2%", informa Carmen Mello, produtora responsável pela vinda de A Casa dos Budas Ditosos a Curitiba. Segundo ela, com essa taxa, que é igual a de São Paulo, Curitiba pode afastar produções para outras cidades. "Talvez seja mais barato montar a peça em uma cidade vizinha, onde não se cobre tudo isso, e fazer as pessoas se deslocarem até lá", diz ela.

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