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Sangiorgi, na plateia do Guairão: “Amo Curitiba, a cidade, as pessoas, o azul do céu, o cheiro, tudo” | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Sangiorgi, na plateia do Guairão: “Amo Curitiba, a cidade, as pessoas, o azul do céu, o cheiro, tudo”| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Trajetória

Saiba mais sobre Alessandro Sangiorgi.

1989 – Início da carreira internacional. Rege a Orquestra Sinfônica de Jerusalém.

1990-1993 – Maestro-assistente e, depois, residente no Teatro Municipal de São Paulo. Esteve à frente de cem apresentações, de óperas a concertos sinfônicos e balés.

1995-1998 – Atua como principal regente convidado coma Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

1996-1999 – Regente titular da Orquestra Sinfônica de Arezzo e diretor musical do Opera Studio de Arezzo (Itália).

2000 – Rege Carmen, de Bizet, e Don Pasquale, de Donizetti, no Circuito Lírico de Vêneto (Itália).

2000-2003 – Diretor da Escola Municipal de Música de Vigevano (Itália).

De 2002 até hoje – Diretor-artístico e Regente Titular da Orquestra Sinfônica do Paraná. Simultaneamente, atua em diversos pontos do mundo, sobretudo no Leste Europeu. (MRS)

Ele costuma dar autógrafos quando entra em algum dos pontos que vendem cafezinho na Rua XV. Também é reconhecido ao sentar em uma cadeira do Hermes Bar, nas noites em que a banda Blindagem é a atração. Do Passeio Público ao Alto da Glória, mesmo em ruas com pouquíssimo movimento, quando passa, algum trauseunte deve se perguntar: "Daonde que eu conheço esse sujeito?" Detalhe relevante: não se trata de nenhum ator de novela, apesar de não serem poucas as mulheres que suspiram por ele – e o consideram tão charmoso quanto um galã de cinema. Ele é Alessandro Sangiorgi, 48 anos, o maestro titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP).

Desde 2002 em Curitiba, onde já morou em dois bairros (antes de se estabelecer no Bacacheri), o regente acabou estabelecendo laços com a cidade. Em primeiro lugar, porque está casado com uma curitibana. "De adoção: ela é londrinense." Mais do que isso. Gosta daqui. Compara Curitiba a Paris: lá e cá sente que há espaço, e é possível respirar – diferentemente de uma "opressora" São Paulo. Quando não está na, segunto ele, "melhor cidade ao sul do planeta", retorna ao Velho Mundo, onde estão as suas origens e também a sua filha. "A mãe dela é outra brasileira. Desde que conheci o Brasil, me apaixonei pelas brasileiras."

De raízes

Nascido em uma família sem tradição musical, Sangiorgi foi "descoberto" aos 4 anos, em meio aos primeiros jogos, entre o escorregador e a gangorra – no jardim de infância. "Alguém percebeu que eu tinha musicalidade." Aos 7 anos, foi estudar piano. "Mas eu não tinha o instrumento em casa. A professora me ensinava e, na aula seguinte, eu conseguia tocar. Comecei a chamar atenção." Cinco anos depois, estaria formado em piano pelo Conservatório de Milão. Em breve, ganhar concursos, mesmo internacionais, seria tão natural como a nota "fá" vir imediatamente após ao "mi".

Nascido em Migliarino, norte da Itália, Sangiorgi não tem a fala em volume de caixa de som de trio elétrico, como o clichê tenta identificar todos os italianos. Mas, mesmo em voz baixa, apresenta aquele gestual marcante que tão bem caracteriza muitos dos nascidos no país de Dante. Uma cena: quando tinha 20 e poucos anos, um professor pediu para ele reger um coral. "Para reger tem de ter dom, é algo que não se aprende." Desde então, tornou-se maestro. Fez até cursos para se aprimorar. Sangiorgi, de certa maneira, corrige o que a vida fez com a sua mãe: se ela não teve oportunidades para desenvolver a própria musicalidade, o filho aproveitaria qualquer acaso para, mais do que improvisar, construir uma trajetória.

Tocar a aldeia

Sangiorgi já assinou pelo menos 150 apresentações como maestro do Teatro Guaíra. A apresentação de hoje da OSP, que tem no programa Aaron Copland, Camargo Guarnieri, Villa-Lobos e Jaime Zenamon, traz a marca do italiano. De Beethoven a Brahms, de Tchaikovsky a Carmina Burana, um dos repertórios que teve mais ressonância foi o encontro da orquestra com a banda Blindagem.

Desde que Sangiorgi viu os Scorpions ao lado da Filarmônica de Berlim, teve vontade de fazer algo similar. Quando conheceu o repertório dos roqueiros paranaenses, não hesitou. Rendeu até um DVD, incluindo apresentações ao ar livre, na Praça Santos Andrade, espaço público onde o maestro gosta de estar quando encontra tempo livre.

Curitiba é assunto que invade, e mesmo atropela, outros temas em meio a um bate-papo com o maestro. Ele busca, e encontra, referências. O tempo todo. Das opções gastronômicas, como churrascarias e culinária japonesa, ao azul do céu. "Diferentemente do Hemisfério Norte, aqui parece que o céu está mais próximo. E é bem mais lindo, sem dúvida."

Outras idiossincrasias

Ele também gosta do cheiro de Curitiba. "Apesar de alguns bueiros do centro da cidade desmentirem isso." Admira o público curitibano, que passou a ocupar praticamente todas as 2.173 cadeiras do Guairão para ver, ouvir e sorver o repertório da orquestra, inclusive nas manhãs dominicais, dentro do projeto Teatro para o Povo.

Aqui, diz ele, tem prazer em usar a batuta, essa espécie de prolongamento da mão do maestro. "Com a ela, é possível induzir os músicos, os bons músicos, a tocar como você quer." Com isso, Sangiorgi estende um elogio aos mais de 60 integrantes da OSP, "ótimos profissionais".

Da Rússia ao Japão, incluindo o Leste Europeu (onde passa a metade do ano devido a compromissos profissionais), Sangiorgi sabe que o reger não é refém de idiomas, antes se faz pelo gestual (aquilo que, nas palavras dele, não se aprende). Um colega sugeriu que ele tentasse exercer a regência sem os braços. Utopia? Talvez não. A receita para se fazer um regente inclui ingredientes como liderança, vocação artística, desejo de estar diante do público, uma inegável musicalidade e, acima de tudo, a capacidade de comunicação. "Você faz um gesto e todos entendem. Entendeu?"

Serviço:

Orquestra Sinfônica do Paraná, sob a regência de Alessandro Sangiorgi. Obras de Aaron Copland, Camargo Guarniere, Villa-Lobos e Jaime Zenamon. Teatro Guaíra (R. XV de Novembro, 971), (41) 3304-7982. Dia 15 (hoje), às 10h30. R$ 30 (platéia) e R$ 20 (1º e 2º balcões). Estudantes, idosos e portadores do cartão Teatro Guaíra pagam meia-entrada.

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