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Cinema

Quando o crime mora ao lado

Gomorra, filme de Matteo Garrone que estréia hoje no Brasil, tece um painel perturbador do tráfico de drogas e do crime organizado no sul da Itália

A opção em Gomorra é por um realismo violento e arrebatador | Divulgação
A opção em Gomorra é por um realismo violento e arrebatador (Foto: Divulgação)

A 12 dias do fim de 2008, é inevitável que críticos e jornalistas especializados em cinema mundo afora estejam fazendo suas listas de melhores do ano. Na Europa e nos Estados Unidos, um dos títulos mais citados é Gomorra, filme do italiano Matteo Garrone que estréia hoje no Brasil. Deixá-lo de fora seria, sem exagero, um ato criminoso.

Para o público latino-americano, Gomorra tem forma e temática familiares. Já na primeira meia hora de projeção, fica evidente que Garrone bebeu da fonte de diretores como o mexicano Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos) e os brasileiros Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e José Padilha (Tropa de Elite).

Entrecruzando de forma fragmentada, não exatamente linear, cinco histórias, o promissor cineasta romano, hoje com 40 anos, tece um painel perturbador do tráfico de drogas e do crime organizado nas províncias de Nápoles e Caserta, na Itália Meridional. Mostra que tudo no país, da alta-costura à política, tem o dedo da Camorra, a máfia regional, apesar de a trama centrar seu foco no cotidiano de personagens comuns. Não há, portanto, um poderoso chefão.

Sucesso de bilheteria na Europa, Gomorra já trouxe a Matteo Garrone e a Roberto Saviano, autor do best seller que originou o filme, o dissabor de estarem jurados de morte pela máfia. Hoje eles vivem 24 horas por dia sob a proteção da polícia. Essa repercussão, no que diz respeito a Garrone, pode ser conseqüência de suas escolhas na hora de adaptar a obra.

A opção em Gomorra é por um realismo violento e arrebatador. Busca-se um tom cru, quase documental, o que o potencializa como filme-denúncia.

Menos estetizado visualmentedo do que, por exemplo, os longas de Fernando Meirelles, Gomorra aproxima-se tanto da obra do brasileiro (de José Padilha) quanto da filmografia do mexicano Alejandro González Iñárritu pelo viés da narrativa, construída a partir dos personagens. E muitos deles são memoráveis, como os dois adolescentes que se rebelam contra os chefões locais e brincam com a idéia de agir de forma independente, reencenando cenas de Scarface, clássico cult de Brian de Palma. Ou o alfaiate que presta serviço a grandes grifes, como Prada e Gucci, mas, cansado de ganhar pouco e trabalhar muito, resolve ensinar seus segredos à competição chinesa.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e do European Film Award de melhor filme, Gomorra, também indicado ao Globo de Ouro, agora ambiciona uma vaga entre os concorrentes ao Oscar de melhor produção em língua estrangeira. Se ficar de fora, os integrantes do colegiado encarregado da categoria merecem fazer companhia a Garrone e Saviano na lista negra da Camorra. GGGGG

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