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Citado por dez em dez artistas da cidade como uma influência decisiva, o poeta curitibano Paulo Leminski não tem museu, sala de exposições ou memorial de sua obra. Vinte e dois anos após sua morte, a família leva seu acervo de um lado para o outro, com o risco de perder coisas pelo caminho.

Iniciativas para mudar isso não faltam. A filha Áurea assumiu a digitalização dos manuscritos. Mas é a criação musical do pai que corre maior risco, até pelo suporte perecível em que se encontra: de 20 a 40 fitas cassete, algumas já com mofo, contêm canções inéditas escritas e executadas por Leminski.

O legado musical do artista é menos conhecido que seus escritos, mas bastante profícuo. Além das conhecidas parcerias com a banda Blindagem, Moraes Moreira e Itamar Assumpção, canções gravadas por artistas como Caetano Veloso ("Verdura") e Arnaldo Antunes ("Luzes") tiveram letra e música escritas pelo poeta.

O fato de o acervo de canções inéditas estar em fitas magnéticas dificulta até mesmo o diagnóstico do material, já que tocá-las em equipamentos convencionais poderia danificar as gravações. O processo foi iniciado pela filha Estrela, musicista, curiosa por conhecer e recuperar o material inédito contido nas fitas.

"Comecei essa digitalização do jeito que podia, mas parei porque algumas vazam de um lado para o outro, e vi que algumas só tocariam uma vez e se perderiam. Decidi esperar para fazer isso com um equipamento decente", contou a artista à Gazeta do Povo.

Projeto

O projeto de digitalização desse material, que incluía a gravação de um disco por diferentes intérpretes, foi aprovado pela Lei Rouanet em 2008, autorizando a captação de patrocínio. Nenhuma empresa topou. Na opinião da artista, a culpa é de um senão da lei que prejudica a música popular.

A mesma tentativa foi feita duas vezes via Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Curitiba, sempre sem resultado. A última seleção de mérito foi divulgada na quarta-feira (coincidentemente, aniversário de Paulo Leminski). O novo fracasso fez Estrela desabafar pelo Facebook, o que rendeu em poucos minutos dezenas de comentários indignados.

"Teve gente que me convidou para executar o projeto em São Paulo. Será que o artista até depois de morto tem que sair de Curitiba para ser reconhecido? Estou no limite", ela confessa.

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