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Uma mulher de 46 anos, sozinha, em plena noite de réveillon. Enquanto espera ansiosamente ser convidada para uma festa de passagem de ano, e escuta a diversão de sua família no andar de cima, ela desabafa seus sentimentos, frustrações, memórias, culpas e incoerências para si mesma, num só fôlego. Este é o enredo de A Mulher Desiludida, espetáculo carioca que estréia hoje na programação da mostra oficial do 15.º Festival de Teatro de Curitiba.

A montagem, dirigida por Gilberto Gawronski e encenada por Guida Vianna é um texto da escritora francesa Simone de Beauvoir, presente na novela A Mulher Desiludida, livro escrito em 1967 e que reúne histórias sobre três personagens femininas diferentes. A segunda parte da novela, intitulada "Monólogo" é a que será apresentada logo mais, no Teatro Paiol, exatamente da maneira como foi escrita. "Ao me deparar com o texto, que achei muito interessante, tive vontade de levá-lo à cena, mas pensei ‘Se é um monólogo, tem de ser feito assim’", conta Guida Vianna, em entrevista ao Caderno G.

Com 30 anos de carreira, Guida – vencedora do Prêmio Shell de melhor atriz em 2004 – já atuou em 40 produções teatrais, além de já ter feito filmes, novelas e minisséries. Mesmo com a extensa bagagem, a atriz nunca havia feito um monólogo, desafio que vem surpreendendo à cada dia. "Eu nunca quis fazer um monólogo. Não era a minha intenção. Sou uma atriz que vem de uma geração de grupo de teatro, gosto de contracenar com outros atores e do jogo teatral. Este é o meu primeiro, e imagino que não vou querer fazer nenhum outro, já está de bom tamanho", brinca a atriz, entre gargalhadas.

O desafio de Guida ao encarnar a personagem Murielle deve-se, em partes, ao ritmo frenético e, na mesma medida, profundo da narrativa de Beauvoir, que apresenta a trajetória da mulher de meia-idade a partir do fluxo de sua consciência. "O pensamento dela vem sem interrupções, sem pontuação, vai fazendo um inventário e tenta reconstruir o que aconteceu em sua vida. O espectador é quem vai montando o quebra-cabeça de sua existência e fazendo seu retrato. A personagem é cheia de incoerências, politicamente incorreta e blasfema contra a humanidade. Mas é o espetáculo por si, a partir desse quebra-cabeça, que monta a imagem e a história dessa mulher", explica Guida.

Mas, como toda boa veterana, a atriz aproveita a experiência inédita para aprender ainda mais sobre sua profissão, com uma performance que vem arrancando elogios por onde passa.

"A gente aprende muito fazendo um monólogo, porque temos de contracenar diretamente com a platéia. Além disso, é o tipo de espetáculo que me exige disciplina, força de vontade, concentração, observação e estar o tempo inteiro ligada no que está acontecendo em cena. A peça fica inteiramente sob minha responsabilidade. Se estou mal num dia e o espetáculo vai mal, eu não posso culpar ninguém, só a mim mesma", analisa.

Guida, que apesar de não se considerar uma expert em Simone de Beauvoir, já havia lido alguns de seus principais romances na juventude, indica o espetáculo especialmente para aqueles que conhecem apenas o lado teórico da escritora, que também esbanja talento ao trabalhar com narrativas ficcionais. "Muitos a conhecem apenas como pensadora, pela obra de ensaios. Para esses, será legal ver uma ficção e perceber a qualidade dela como escritora desse gênero", ressalta.

Serviço: A Mulher Desiludida (RJ). Teatro Paiol (Pça. Guido Viaro, s/n.º), (41) 3213-1340. Texto de Simone de Beauvoir. Tradução de Maryan Barbosa. Direção de Gilberto Gawronski. Com Guida Vianna. Hoje, amanhã e sábado, às 20h30. Ingressos a R$ 24 e R$ 12.

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