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Quem é e como o setor artístico vê Marcelo Calero, o novo Ministro da Cultura

Novo titular da pasta recentemente recriada, Calero, de 33 anos, é diplomata e ex-secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro

Presidente em exercício havia nomeado Calero secretário  de Cultura antes de recuar e recriar o MinC. | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Presidente em exercício havia nomeado Calero secretário de Cultura antes de recuar e recriar o MinC. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Em meio a outras figuras menos conhecidas, algumas com os braços cruzados e cenhos franzidos, Marieta Severo gesticula, com o dedo em riste. Ao seu lado está Renata Sorrah, que assente, com olhar de indignação. Todos levantam plaquinhas coloridas: #FICAMinC.

A cena passou no “Jornal Nacional” na terça-feira (17). Era uma reunião de artistas e integrantes da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), que se encontraram para escrever uma carta aberta pedindo a volta do Ministério da Cultura (MinC). “É um retrocesso, uma censura à criatividade”, disse o global Marco Nanini.

Em uma das fileiras, um rapaz de barba aparada e camisa xadrez aberta no primeiro botão ouve atentamente. Na tela, ele se confunde com os artistas que protestam contra a extinção da pasta. Dois dias depois, no entanto, estaria no Palácio do Planalto: era o novo secretário nacional de Cultura de Michel Temer (PMDB) – cargo que foi chamado pela consultora Eliane Costa, uma das seis mulheres que o recusaram, de “coveiro do MinC”.

Marcelo Calero (PSDB-RJ), então secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro, era o recurso final do presidente interino para lidar com o problema mais barulhento de seu governo até agora – a forte reação do cenário artístico e cultural à extinção do ministério, que motivou a ocupação de prédios públicos em várias capitais. Temer já havia ouvido recusas de pelo menos seis artistas e professoras convidadas para assumir a secretaria, em uma tentativa de responder também às críticas sobre seu governo ter apenas homens. Depois de dez dias, no entanto, Temer cedeu e recriou a pasta no último sábado (21). Calero será ministro, mas as ocupações sinalizaram que vão continuar.

Ambição política

Calero , 33 anos, é advogado e diplomata, de uma família tradicional na diplomacia brasileira. Antes da secretaria de cultura do Rio, passou pela Comissão de Valores Monetários (CVM), ligada ao Ministério da Fazenda, pela Petrobras e pela embaixada do Brasil no México em 2007. Chegou a se candidatar a deputado federal em 2010, fazendo 2.252 votos.

Era presidente do Comitê Rio450, um programa de comemoração ao aniversário do Rio, quando foi chamado por Eduardo Paes (PMDB) para a assumir a secretaria municipal no lugar do jornalista Sérgio Sá Leitão, no início de 2015. Seu nome era elogiado com frequência pelo prefeito nas cerimônias públicas, diz “O Estado de S. Paulo”. “Ele nunca escondeu a ambição política dele. Esta intenção sempre foi clara”, disse um assessor.

Diálogo

Calero – que contou em entrevista ao “Globo” ter uma foto de Vinicius de Moraes em seu gabinete por considerar diplomacia e cultura convergentes – disse em nota divulgada à imprensa no sábado que vai “preservar conquistas, aprofundar políticas exitosas e criar novos programas”. E se apresentou novamente com o mote do diálogo.

“Ele é um diplomata. É um cara que estuda muito, alguém bastante inteligente e que sabe fazer o jogo político

Rodrigo Bouillet cineclubista e membro do Conselho Estadual de Política Cultural do RJ

O perfil negociador não é desmentido nem por setores da classe artística carioca que tiveram boa relação com o secretário nem pelos que criticam a linha das suas políticas.

“Ele é um diplomata. Tem um perfil muito mais palatável. É um cara que estuda muito, alguém bastante inteligente e que sabe fazer o jogo político”, diz Rodrigo Bouillet, cineclubista e membro do Conselho Estadual de Política Cultural do Rio de Janeiro. Ele é um dos militantes da classe artística carioca com posicionamento crítico em relação às medidas de Calero na secretaria – para Bouillet, mais focada em obras de maior visibilidade em detrimento de políticas descentralizadas e de longo prazo.

Ele expandiu a cultura pela cidade, em vez de mantê-la restrita aos bairros da zona sul [do Rio de Janeiro]. É um cara aberto ao diálogo

Eduardo Barataprodutor cultural

Igualmente crítico em relação à atuação de Calero na prefeitura do Rio, Frederico Neto, um dos conselheiros municipais de Cultura do município, também destaca este perfil do novo ministro, e diz esperar debates “razoavelmente elevados” dos movimentos organizados com o novo titular da pasta, prevendo que os principais pontos de discussão se darão em torno da descentralização das políticas de cultura (que, para ele, tendem a se centralizar no Rio de Janeiro com Calero), privatização de equipamentos culturais e uso de organizações sociais. “O debate [na área cultural] sempre foi rebaixado. Vai ser um embate difícil, mas pelo menos o discurso vai ser qualificado”, diz.

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