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Biografia de Mark Bego retrata a ascenção e queda da diva pop recordista de vendas | Mario Anzuoni/Reuters
Biografia de Mark Bego retrata a ascenção e queda da diva pop recordista de vendas| Foto: Mario Anzuoni/Reuters
  • Livro- Whitney Houston: A Espetacular Ascensão e o Trágico Declínio da Mulher Cuja Voz Inspirou uma Geração - Mark Bego. Tradução de Maíra Jamel. Editora Sonora, 256 págs., R$ 39,90

Como nos melhores romances policiais, o livro começa com um corpo. O corpo de uma popstar morta na banheira de um hotel de luxo em Los Angeles na véspera da festa maior da indústria musical: a entrega dos Grammys. Há ainda o peso simbólico de que a estrela foi uma das maiores ganhadoras de prêmios e vendedoras de discos da história recente. Isto é o que conta Mark Bego em Whitney Houston: A Espetacular Ascensão e o Trágico Declínio da Mulher Cuja Voz Inspirou uma Geração (o título já conta quase tudo), lançamento inaugural da Sonora, uma nova editora voltada só para a música.

Mark Bego já publicou 59 livros, a maioria biografias sobre estrelas do cinema e da música pop, com mais de 10 milhões de exemplares em circulação. Rápido e eficiente, foi apelidado de "o príncipe das biografias pop." Aqui, foi super-rápido: o livro saiu nos EUA meses após a morte da cantora.

Whitney nasceu cercada da proteção familiar em Newark, Nova Jersey. E cresceu imersa em música, com a mãe cantora Cissy (líder do girl group The Sweet Inspirations), as primas Dee Dee e Dionne Warwick (musa de Burt Bacharach) e a "madrinha" Aretha Franklin. Já aos onze anos, cantava no coro juvenil da igreja batista e aprendia a tocar piano. Um dia um fotógrafo a viu cantando com a mãe no Carnegie Hall e colocou-a na capa da revista Seventeen – uma das primeiras negras a merecer tal distinção. Podia ter sido manequim de sucesso, mas a música era mais forte. Whitney já fizera backing vocals para estrelas como Luther Vandross e Aretha Franklin quando foi descoberta pelo mago da produção fonográfica, Clive Davis. Bonita e talentosa, tinha tudo para gravar, mas Clive agiu com cautela extrema e levou dois anos em busca dos produtores e do repertório certos para que sua estreia fosse perfeita. Lançado em fevereiro de 1985, o álbum Whitney Houston frequentaria, um ano depois, o número um das paradas da Billboard. A revista Rolling Stone a aclamou como "uma das novas vozes mais excitantes dos últimos anos."

Foi Whitney quem celebrizou a prática de astros famosos cantarem o hino nacional em grandes eventos, na decisão do campeonato de futebol americano em Tampa, Flórida, em janeiro de 1991, no auge da Guerra do Golfo. Com a carreira em ascensão, passou a ser o alvo dos tabloides. Apesar de envolvimentos românticos com o ator Eddie Murphy e o astro do futebol americano Randall Cunningham, até as vésperas dos 30 anos ainda não tinha casado. Comenta Bego: "Apesar da imagem charmosa, deleitável e feminina que foi criada para Houston (...) os rumores sobre ela ser lésbica eram agora comuns e perguntas sobre esse assunto eram certas em todas as entrevistas que dava." Ele narra o desenlace da crise: "Qual seria a melhor forma de Whitney protestar contra as tentativas de sua mãe e de Robyn (o namorado) de dizer o que ela deveria fazer? Que tal namorar e engravidar de um famoso cantor bad boy? Bem, foi exatamente isso que aconteceu. Entrava em cena Bobby Brown, notório por sua má reputação."

Declínio

Como todo mundo, Bego embarca na versão de que, a partir do momento em que casou com Bobby Brown, em 1992, uma onda implacável de má sorte – um verdadeiro tsunami de azar – se abateu sobre Whitney. Era uma regressão aos velhos fantasmas do blues, o jinx (urucubaca) que contaminava a pessoa, sem possibilidade de redenção.

Apesar da filha adorada, Bobbi Kristina Brown, começou aí o declínio da diva. Bego faz um inventário meticuloso dos detalhes do "inferno a dois" que Whitney e Bobby viveriam, muitas vezes diante das câmeras, sem o menor pudor. Refluxos de sucesso ainda continuaram a banhar Houston, em especial com seu filme de estreia e megassucesso de bilheteria O Guarda-Costas, em que faz um par romântico (e in­ter-racial) com Kevin Costner.

Bego contabiliza: "No final de 1999, Whitney Houston tinha vendido mais de 110 milhões de álbuns no mundo inteiro, produzido três filmes muito populares e era a quarta maior produtora de singles dentre aqueles que alcançaram o primeiro lugar nas paradas." E anuncia a derrocada: "Infelizmente, a partir deste momento, a tendência era de queda. Parecia que, desse ponto em diante, ela fazia tudo ao seu alcance para acelerar sua ruína."

Em janeiro de 2012, essa ruína era palpável: "Segundo várias fontes, Houston estava quebrada e tinha gastado todo o dinheiro que uma vez formou sua fortuna. (...) Ela poderia se tornar uma ­sem-teto, não fossem as pessoas que a apoiam."

Apesar desse quadro, Bego escreve: "No sábado, 11 de fevereiro, Whitney estava se sentindo em casa no luxuoso quarto andar do hotel Beverly Hilton, onde se hospedou numa espaçosa suíte, o quarto 434. Normalmente ela se cercava de membros de sua equipe pessoal, mas nessa tarde ficou sozinha e decidiu tomar um relaxante banho de banheira antes da festa. Segundo o relatório da polícia de Beverly Hills, foi um membro da equipe da cantora e dois de seus guarda-costas que a encontraram desfalecida na banheira. Em vão tentaram reanimá-la e ligaram para a emergência às 3:43, hora local. A polícia e os bombeiros estavam nos arredores e puderam atender ao chamado imediatamente. Mas a equipe de emergência não foi capaz de reanimá-la. Assim, Whitney Houston foi, oficialmente, declarada morta às 3:55 p.m."

Os legistas oficiais de Los Angeles informaram à família de Whitney que não havia água suficiente em seus pulmões para configurar morte por afogamento. Ao invés disso, suspeitavam que ela havia ingerido uma dose fatal de Xanax e outras drogas vendidas sob prescrição misturadas com álcool.

Bego anota um detalhe grotesco, depois de dizer que Clive Davis "sempre a tratava como se fosse a cereja do bolo": "Whitney queria ir à festa de Clive no Beverly Hilton e lá esteve, mesmo após a morte. Enquanto o evento acontecia, andares abaixo o corpo sem vida de Whitney ainda permanecia no quarto andar do hotel, onde estava em andamento a investigação policial. Seu corpo não foi retirado da suíte antes da madrugada."

O biógrafo de nove entre dez estrelas do showbiz justifica; "A festa pré-Grammy organizada por Clive Davis foi mantida. De acordo com o antigo ditado do mundo das artes: ‘O show não pode parar.’"

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