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 | Miguel Nicolau/ Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/ Especial para a Gazeta do Povo

Há pouco mais de um mês escrevi cá um texto criticando a ideia do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) em transformar num binário as ruas Padre Germano Mayer e Camões, cujos trajetos cruzam os bairros do Cristo Rei, Alto da XV e Cabral. O projeto prevê a abertura de ruas onde hoje há quatro praças e jardinetes que são muito caros à quem prefere viver a cidade ao ar livre, e não dentro de um carro. No final do texto (era carnaval), afirmei que o Ippuc “atravessava o samba” ao assumir uma postura pró-carro que me parece ainda de um mau gosto anacrônico e sem compromisso com a vocação daquela região da cidade.

Nos dias seguintes, o presidente do Ippuc, o arquiteto Sérgio Póvoa Pires escreveu à Gazeta do Povo um texto em resposta. Infelizmente não houve, à época, ocasião para publicá-lo na integra. Aproveito este espaço para, em tempo, corrigir a injustiça.

O texto bem escrito sabe começar ao citar o samba “Juízo Final”, dos ídolos Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, para rechaçar meus argumentos . “A canção diz que ‘a luz há de chegar aos corações’. E foi este sentimento que moveu a mim e ao Ippuc quando apresentamos o projeto de requalificação das ruas”, afirma Pires.

Ele segue dizendo que “o projeto não foi criado para dar lugar aos veículos particulares e à velocidade”. Segundo Pires, as ruas teriam velocidade máxima reduzida para 40 km/h com travessias elevadas nos cruzamentos. “Trata-se de uma medida cristalina de humanização do espaço público para acalmar o e proteger a vida das pessoas”, afirma Pires.

Pires afirma que apesar das “intervenções necessárias para a correção das vias que irão atingir os jardinetes”, a criativade dos técnicos do Ippuc fará ampliar em 72% as áreas verdes da região, que terão “bebedouros, estacionamento de bicicletas, paisagismo e iluminação”. o Ippuc ainda assumiu o compromisso de que para “cada árvore retirada, serão plantadas pelo menos quatro”.

Isto posto, quero dizer que, apesar da argumentação elegante e democrática do Ippuc, sigo contrário ao projeto. Quero ter olhos para ver, mas não consigo enxergar como a abertura de ruas onde há anos pisamos nas folhas secas dos juvevês pode humanizar a cidade. E acredito ainda que existem áreas da cidade que precisam mais da atenção e da criatividade do Ippuc.

E então vieram as águas de março. E os alagamentos que acontecem naquela área desde sempre fizeram com que o binário fosse suspenso até a conclusão de um projeto de drenagem da área.

O Tempo e suas linhas tortas nos deram mais tempo para continuar o debate. Oxalá, até o ponto em que o sentimento da sociedade e o planejamento público possam se afinar e assoviar o mesmo samba.

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