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"Heaven, I’m in heaven", diz a abertura de "Cheek to Cheek", precisa para definir o estado de espírito de quem ouve Ella and Louis, clássico do selo Verve que reuniu pela primeira vez o sol (Louis Armstrong) e a lua (Ella Fitzgerald) do jazz – como alguém disse à época – dentro de um estúdio para gravar 11 standards no dia 16 de agosto de 56.

Se o paraíso tem uma discoteca, ela tem o disco produzido por Norman Granz e lançado no Brasil pela primeira vez no formato CD. Se não tiver, não é o céu. Eles voltariam a se encontrar um ano mais tarde, gravando Ella and Louis Again e Porgy and Bess, inéditos no país.

A edição nacional, como de hábito, não tem metade dos atrativos que a original, lançada nos EUA há seis anos. Embora mirrado, o livreto traz um texto curioso do jornalista John McDonough, colaborador da Downbeat e do The Wall Street Journal.

McDonough dá informações sobre os bastidores da gravação. Conta, por exemplo, que Granz sabia o valor do material que tinha em mãos. Ao contrário do que acontece normalmente nesses encontros musicais, a sessão com Armstrong e Ella não teve restos de estúdio. Tudo o que foi gravado está no disco. Não se perdeu nada.

Como pressentia que um álbum com dois dos maiores artistas da época era um sucesso inevitável, Granz não perdeu tempo elaborando uma capa sedutora e muito menos uma campanha de vendas. Apenas fotografou a dupla no estúdio sem maquiagem nem frescuras.

Ella (1917 – 1996) e Armstrong (1901 – 1971), sentados em bancos de metal que parecem pouco confortáveis, têm semblantes que sugerem uma mistura de alegria e cansaço, possível apenas para alguém que tira algum prazer do que faz. Ella tem um olhar carinhoso e usa um vestido branco com gola azul, enquanto Armstrong, como se tivessem combinado, veste uma camisa branca com listras azuis.

Ele traz o trompete no colo e o paninho indefectível que usava para enxugar o rosto, as mãos e o instrumento. A calça curta e as meias brancas, enroladas até o tornozelo, deixam à mostra a canela de Armstrong. A foto é simples de doer, mas ainda assim – e por isso mesmo – é linda.

Da música, não é preciso dizer muito. Todas as faixas são perfeitas ao quadrado. Podem ser standards, mas à exceção de "Cheek to Cheek" e "April in Paris", não são daquelas que se vê em toda parte. E se fosse? Pouco importa. Ouvir Armstrong e Ella vai além de notas e letras. Você os ouve e, mesmo que não queira, passa a acreditar um pouco (mais) na humanidade. GGGGG

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