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O centenário de nascimento do poeta Mario Quintana, comemorado hoje, é também uma celebração a uma espécie cada vez mais rara no Brasil, a do poeta-celebridade. Com uma obra extensa, publicada ao longo de seis décadas de produção, Quintana era cultuado por seus pares. Recebeu homenagens de gente como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto. Muito mais do que isso, porém, ganhou uma legião de fãs. Era lido e relido por crianças, adolescentes e adultos. Tornou-se um clássico e ao mesmo tempo um best-seller: coisa para poucos.

Prova da simpatia que ainda hoje causa o poeta, nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1906, é que para o seu centenário foram republicados seus livros, organizaram-se eventos em várias partes do país e até uma série de documentários para a tevê foi produzida. A RBS, afiliada gaúcha da Rede Globo, preparou quatro episódios sobre Quintana que estão indo ao ar neste mês. O nome da série tenta traduzir o espírito da obra e da vida do escritor: Quintana, Anjo Poeta.

"Aqui no Sul, ele é uma unanimidade", diz Caroline Andreis, uma das produtoras do documentário. "Todo mundo lê, conhece, gosta", conta. Ela foi a responsável por produzir o episódio que fala sobre o jeito lúdico de Quintana, que mesmo dando entrevistas já velho continuava parecendo uma criança, quase ingênua – embora estivesse longe dessa ingenuidade, como provavam alguns poemas mais críticos ou sensuais. Outro episódio fala sobre a relação do poeta com Porto Alegre, a cidade onde ele decidiu morar por toda a sua vida. A relação era de profundo amor. Não é à toa que até hoje o poeta é uma referência turística na cidade. Seu apartamento em um hotel virou Centro Cultural e um dos pontos de parada obrigatórios dos turistas na capital gaúcha.

"Ele se tornou um ícone", afirma o também gaúcho Paulo Scott, poeta nascido em Porto Alegre. "Ele tinha um poder de sátira muito grande. Pena que criou algumas mágoas, achando que não tinha reconhecimento suficiente", afirma. Hoje, comenta o poeta, 12 anos depois da morte de Quintana, esse reconhecimento vem chegando tardiamente. O que transforma em uma espécie de previsão o que talvez seja o poema mais célebre do escritor. Em uma quadra publicada em 1978 ele dizia: "Todos esses que aí estão/ Atravancando meu caminho,/ Eles passarão.../ Eu passarinho!". Acertou em cheio.

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