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Apresentado ao público americano em maio de 2005, Crash – No Limite (a mania de subtítulos dispensáveis continua no Brasil) faz parte de uma seleta galeria de filmes que conseguiram indicações ao Oscar mesmo tendo sido lançados nos EUA fora dos meses tradicionais (novembro ou dezembro) de estréias dos principais concorrentes ao prêmio da Academia – assim como O Silêncio dos Inocentes (fevereiro de 1991), Forrest Gump (julho de 1994), Gladiador (maio de 2000) e Seabiscuit (julho de 2003). Isso faz com que a produção dirigida por Paul Haggis chegue este mês às locadoras brasileiras ao mesmo tempo em que volta ao cartaz nos cinemas do país, por conta das seis nominações às estatuetas douradas: melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Matt Dilon), roteiro original, edição e música.

Bem ao estilo de Robert Altman (em O Jogador e Short Cuts – Cenas da Vida) e Paul Thomas Anderson (em Magnólia), Haggis (roteirista de Menina de Ouro, de Clint Eastwood, vencedor do Oscar de melhor filme do ano passado) constrói uma trama com um grande número de personagens, cujas vidas vão se cruzando em Los Angeles. O tema central é o racismo e a intolerância na América – sentimentos seculares que continuam nas entranhas da dita sociedade da liberdade.

Não existe um protagonista na história. Há o detetive Graham (Don Cheadle), que tem um relacionamento não-resolvido com Ria (Jennifer Esposito), companheira latina de trabalho, além de lidar com a mãe doente e o irmão viciado em drogas. Ainda no lado policial, destaca-se o oficial Ryan (Matt Dillon), racista que provoca o desconforto do parceiro de ronda Hanson (Ryan Phillippe).

O político Rick (Brendan Fraser) e sua mulher Jean (Sandra Bullock) acaba conhecendo de perto a violência do crime na cidade. Um outro tipo de violência, a policial, é experimentada da mesma forma pelo diretor de tevê Cameron (Terrence Howard) e sua mulher Christine (Thandie Newton). Latinos e arábes também entram em conflito na trama. O emaranhado de situações vai se resolvendo e as conexões entre os personagens aparecem.

O roteiro original foi escrito por Haggis em parceria com Robert Moresco e é favorito ao Oscar, pois recentemente venceu a premiação do sindicato dos roteiristas dos EUA. Apesar da narrativa bem construída, há um certo exagero na esquematização da trama. Os criadores do texto acabam apelando para algumas resoluções fáceis para resolver os conflitos levantados – o fim da história é otimista e conciliador demais para as situações apresentadas. Mas isso não se constitui numa falha do diretor, apenas um ponto de vista um tanto sonhador das coisas.

O grande triunfo de Crash é a ótima atuação de todo o elenco – coroado na premiação dos sindicatos dos atores dos EUA. Matt Dillon, que teve início de carreira promissor e depois se perdeu em papéis de canastrão, tem sua melhor atuação em anos, recebendo uma merecida indicação ao Oscar. Ele rivaliza com Don Cheadle (que também merecia uma indicação) como destaque do filme. Até Fraser e Bullock, pouco identificados com papéis muito dramáticos no cinema, se saem bem.

Apesar de O Segredo de Brokeback Mountain ser o grande favorito ao Oscar, Crash pode aparecer como supresa e vencer a estatueta de melhor filme se a Academia decidir ser mais conservadora e não premiar o polêmico drama gay de Ang Lee. GGG1/2

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