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Aos 88 anos, Lucia Kubis prefere esquecer o passado de Rainha do Rádio curitibana e os anos de glória | Rosano Mauro Jr./Divulgação
Aos 88 anos, Lucia Kubis prefere esquecer o passado de Rainha do Rádio curitibana e os anos de glória| Foto: Rosano Mauro Jr./Divulgação

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Notícias da Rainha

Pré-estreia do documentário amanhã, às 20 horas, no Guairinha – Auditório Salvador de Ferrante (R. XV de novembro, 971), (41) 3304-7961. Ingressos: R$ 10, R$ 5 (meia-entrada) e R$ 8 (para associados do Cartão Teatro Guaíra e do Clube do Assinante da Gazeta do Povo).

  • Estrela da emissora RB2, Lucia Cecília Kubis foi eleita, em 1948, a Rainha do Rádio pela Gazeta do Povo

O ano de 1948 foi especial para Lucia Cecília Kubis. Ela foi escolhida, em votação promovida pela Gazeta do Povo, a Rainha do Rádio na capital paranaense. O primeiro de três títulos que recebeu em duas décadas de carreira. A cantora, de dotes vocais invejáveis, moldados em aulas de canto que recebeu desde muito jovem, tinha suas particularidades. Ela preferia música lírica, operetas, a marchinhas de carnaval, sambas-canção ou boleros, gêneros em voga naquela época. Muito popular, ela seguiu no posto de estrela da PRB2, cantando e participando de radionovelas até 1964, quando a emissora encerrou suas atividades e fechou as portas. Naquele momento, a luz de Lucia, a intérprete, também começaria a se apagar.

A incrível, e hoje desconhecida, trajetória da cantora chegou aos ouvidos da cineasta curitibana Ana Johann por meio de uma amigo, Ricardo Trento, proprietário de uma empresa de captação e produção cultural, que conhecia uma das filhas de Lucia, Liliana Pizzolato, e acreditava que a história da cantora renderia um filme.

Inconformada com a ausência do nome da mãe nos livros de história cultural do Paraná, Liliana tentava há bastante tempo escrever uma obra com as memórias de Lucia. Mas sempre esbarrava na reticência da biografada, que se recusava a dar respostas a muitas de suas perguntas.

Desse impasse, o de uma filha que tenta, em vão, resgatar em detalhes o passado da mãe, nasceu o curta-metragem Notícias da Rainha, que tem pré-estreia amanhã, às 20 horas, no Guairinha, teatro no qual o filme foi gravado, e palco onde Lucia se apresentou muitas vezes em sua carreira.

Dona de um troféu Can­­­dan­­­go, que recebeu em 2012 pelo longa-metragem Um Filme para Dirceu, também um trabalho de não ficção, vencedor do Prêmio Especial do Júri no 45.º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, Ana pensava, em princípio, lá nos idos de 2010, em realizar um documentário observacional sobre Lucia. Aos poucos, entretanto, foi percebendo que tinha nas mãos uma história tão complexa quanto a da cantora. Deu-se conta que também desejava falar dessa pulsão, até certo ponto frustrada, de Luciana tirar a história de Lucia, hoje aos 88 anos, do esquecimento, da vontade de trazê-la de volta à luz.

"Pedi a Liliana [que tem uma irmã gêmea, Luciana] que ela escrevesse sobre isso, a respeito da história que conhecia da mãe, e os primeiros textos eram sempre muito formais, listando fatos históricos da vida de Lucia." Foi só quando a diretora insistiu para que ela produzisse algo mais pessoal, em primeira pessoa, que o roteiro de Notícias da Rainha começou a se desenhar. Talvez também decorrência da participação da cineasta, por três anos, do Núcleo de Dramaturgia do Sesi, onde Ana se descobriu também dramaturga.

Desse depoimento de Liliana, hoje com 58 anos, surgiu boa parte do texto do filme. Está tudo lá, sua maneira de se expressar, as inquietações, transformadas em uma espécie de narração/monólogo, interpretado pela atriz Rosana Stavis. Gravado no palco do Guairinha, o filme dialoga com a ficção e o teatro, mas, nas palavras da diretora, jamais se distancia do intento de ser fundamentalmente um documentário, por mais que recorra à uma certa dramatização, que ora toma forma de texto, que também se remete à radionovela, ora à própria música, quando a narração se transfigura em canto.

Mas Ana Johann também foi beber de outras fontes. Além de ouvir a protagonista, que insiste em dizer que se lembra muito pouco do passado, embora esteja completamente lúcida, e de sua filha, a diretora fuçou nos guardados da estrela, que não chegou a gravar discos – há apenas fragmentos de uma gravação dos tempos da PRB2.

No auge da popularidade, Lucia recebia muitas cartas de fãs. Entre elas, a de uma certo Antônio Lewandowsky, filho de um leiteiro de Ponta Grossa, a quem foi negada a oportunidade de estudar na infância. Acabou preso na Penitenciária Central do Paraná, de onde escreveu linhas apaixonada à sua musa, cuja voz o acalentou e consolou. Quase nada se sabe sobre ele, ou mesmo a respeito de Lucia, no fim das contas. Notícias da Rainha, em vez de elucidar, se alimenta desses mistérios. E deles Notícias da Rainha tira seu fascínio.

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