A cantora paraibana Renata Arruda não é das mais conhecidas do universo pop nacional, mas volta e meia a moça consegue atrair um pouco mais de atenção para si com alguma música que se destaca em trilhas sonoras televisivas. Foi assim em 1993, quando o refrão "Minha vida meus mortos meus caminhos tortos/ Meu sangue latino" fez-se ouvir na novela Fera Ferida. A canção era "Sangue Latino" (João Ricardi/ Paulinho Mendonça), uma das faixas de seu disco de estréia Traficantes de Ilusões (Warner/MZA).
Vieram "Templo", delicada composição de Chico César, que fez parte do segundo disco, Renata Arruda (MZA, 1996); e "É Ouro pra Mim" (Peninha), sucesso do álbum seguinte, Um do Outro (BMG, 1999), produzido por Guto Graça Melo.
Uma homenagem às compositoras brasileiras pautou o elogiado Por Elas e Outras (Sony, 2003), que trazia sucessos dos repertórios de Marisa Monte ("Eu Sei"), Adriana Calcanhotto ("Mentiras") e Maysa ("Ouça"); enquanto o trabalho posterior, o acústico Pegada, gravado em CD e DVD em 2005, apostou em releituras dos três primeiros registros.
Ainda que a cantora nunca tenha "estourado" na mídia ou em vendas, como ocorreu com Ana Carolina, a quem já foi comparada pela rouquidão na voz e um certo ar combativo bem mais suave no caso da paraibana em algumas interpretações, sua trajetória de 15 anos confirma uma carreira consistente, que ainda guarda potencial. É o que comprova seu novo trabalho, o recém-lançado CD Deixa, distinto dos anteriores por trazer a assinatura de Renata Arruda em todas as canções e por ser o que mais se aproxima da tradição rítmica nordestina do baião e do forró.
"Por ser meu primeiro disco autoral, recorri às minhas raízes para compor as músicas. É quase uma volta à Paraíba", explicou a compositora em entrevista à Gazeta do Povo. "Os parceiros não são todos nordestinos, mas o disco tem um sotaque que é meu. É uma ousadia grande minha, estava na hora de botar na roda."
Entre esses parceiros, sobressai a atriz Lúcia Veríssimo, acumulando os papéis de diretora artística e de produção, responsável pela concepção do disco e seu lançamento pelo seu selo, o Canela Produções. Se não bastasse, ainda divide a composição de duas faixas: "Pendor" e "Deixa Eu Voltar" esta, gravada em duas versões: a primeira, acompanhada por sopros, cordas e percussão; e a outra reduzida ao violão. Momentos de lamento romântico só para quem os aprecia.
Os destaques do repertório, porém, vêm de outras dobradinhas, como a canção que abre bem o disco, "Palavra Escrita", letra de Maria Carmem Barbosa animada pelo flerte com o baião, no arranjo de Walter Villaça ele assume a guitarra em várias faixas e divide os arranjos com Renata e outro guitarrista, Robertinho do Recife. "Miolo Mole da Moça" (Renata Arruda/Dannah Costa) conquista pela irreverência. Chico César e Zélia Duncan também contribuem, respectivamente, com"Vitamina" e "Fagulha Rara".
Mesmo irregular, o disco vale por algumas boas composições e interpretações dessa paraibana, que vai do pop-rock aos ritmos nordestinos, sem abrir mão de canções de um acento mais romântico.
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