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Chimamanda Ngozi Adichie não gosta que suas histórias sejam passíveis de generalizações, aplicáveis a outros países da África. Talvez seja por isso que seus livros são recheados de palavras e expressões ditas em idioma igbo – expressões que propositalmente não são traduzidas, nem em notas de rodapé. O recurso, além de causar uma sensação de estranheza no leitor que não conhece o idioma, serve também para que se experimente a cor local – cada vez mais difícil de ser demarcada em um mundo globalizado.

Mesmo assim, a reação que a protagonista Kambili tem não é estranha a quem conheça o peso de qualquer forma de repressão ideológica. Criada em um ambiente rígido, Kambili por vezes não reage de acordo com seus sentimentos, ou não reage de forma alguma. A apatia e a falta de vivência tiram-lhe qualquer urgência natural da adolescência por descobrir o mundo. E isso não é nenhuma exclusividade do fundamentalismo católico ou da sociedade nigeriana.

É, pois, tratando de questões que são universais, que Chimamanda tira do leitor o possível afastamento que uma sociedade tida como exótica poderia causar. O microcosmos retratado pela autora é real e próximo. Porém, jogando com o pano de fundo político, direciona o olhar do espectador para esse cenário pouco convidativo que é a Nigéria tomada por militares. A mensagem que fica é a de que mesmo a falta de democracia é um empecilho para que os conflitos criados no seio da família – que existem e sempre existirão em qualquer lugar ou época – sejam resolvidos tranquilamente.

Yuri Al’Hanati, repórter

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