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Federico Luppi  e Adrian Navarro na montagem de Por Tu Padre | Divulgação
Federico Luppi e Adrian Navarro na montagem de Por Tu Padre| Foto: Divulgação

Visuais

Bienal de SP: relação entre arte e política

Agência Estado

São Paulo - A 29.ª Bienal de São Paulo, cujo título reproduz verso do poeta Jorge de Lima – Há Sempre Um Copo de Mar para o Homem Navegar –, abre suas portas para convidados a partir de hoje e no sábado para o público, sob o signo de um conceito abrangente: a relação entre arte e política. Reúne mais de 800 obras criadas por 159 artistas, dentre as quais há um predomínio de vídeos e fotografias, seguindo tendência de mostras internacionais do gênero.

Uma das principais surpresas da grande mostra é o projeto expográfico da arquiteta Marta Bogéa. Bem intrincado e mimetizando o caráter labiríntico da produção contemporânea, a exposição levará o visitante a serpentear pelo pavilhão no Ibirapuera, enquanto sugere caminhos opcionais de percurso. Não bastante, o mapa da exposição tem o mérito de desvendar ao público a paisagem luminosa do parque.

A mostra abriga ainda seis "terreiros", ou seja, construções destinadas à criação, descanso e reflexão, concebidas a pedido da curadoria por arquitetos e artistas plásticos. Cada terreiro atende a uma finalidade específica, como a exibição de filmes, realização de performances, palestras, etc.

Em termos históricos, a produção artística brasileira e internacional dos anos 1960 e 70 tem espaço privilegiado na mostra, trazendo nomes como os de Lygia Pape, Cildo Meireles e Joseph Kosuth, entre outros. Com duplo intuito: demonstrar a continuidade e os desdobramentos desses trabalhos, bem como sua relação fértil com questionamentos das gerações subsequentes. A ideia de diálogo se dá, por exemplo, na relação poética entre Nuno Ramos e Oswaldo Goeldi.

Outro papel da Bienal, o de ajudar a atualizar o público brasileiro em relação à produção de ponta internacional, é sublinhado pelos organizadores como um de seus principais objetivos. Isso se contempla com a inclusão na lista dos artistas convidados de nomes de peso como o do chinês Ai Wei Wei, dos cineastas Harun Farocki e Apichatpong Weerasethakul, ou da fotógrafa americana Nan Goldin.

Advinhe Quem Vem para Jantar foi o penúltimo espetáculo de Paulo Autran (1922-2007), antes de se despedir dos palcos em O Avarento, sua 90.ª montagem. É um texto escrito por Dib Carneiro Neto, editor de cultura do jornal O Estado de S. Paulo, sobre as descobertas de um jovem homem diante da morte do pai. A peça chegou à Argentina, e foi remontada tendo "o Paulo Autran deles", o ator Federico Luppi, nos papéis maduros.

Por Tu Padre (como foi rebatizada) emocionou o público do Theatro São Pedro, o mais tradicional e acolhedor da capital gaúcha, neste 17.º Porto Alegre em Cena. A história familiar tem ingredientes fortes para envolver o espectador: um filho ressentido desde a infância por ter sabido do caso da mãe com o amigo do pai; morte e reviravoltas que redefinem a identidade do rapaz. Além de uma sempre pertinente discussão sobre traição, perdão e a necessidade de não se legar a sedução apenas aos verdes anos da solteirice.

Se, na montagem brasileira, Paulo Autran mudava de personalidade quando interpretava o velho amigo da família e quando voltava à cena como o pai traído, a atuação de Federico Luppi toma outra direção: ele se aproveita da confusão dos papéis que os dois representam para o filho e os faz sem alterar o tom. Assume assim o delírio do personagem mais novo (o ator Adrian Navarro) – algo que o cenário realista e concreto não consegue.

Aos 74 anos, Federico Luppi soma quase uma centena de atuações no cinema argentino, mexicano, espanhol e norte-americano, com destaque para as parcerias com Guillermo del Toro em Cronos, A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno, e mais participações em Elsa e Fred e Machuca.

O próximo longa que protagoniza é o drama Verano Amargo, dirigido por Juan Carlos Desanzo, que toca na ferida da crise financeira argentina de 2001. Fez também episódios da série Os Simuladores, exibida pela Sony no Brasil.

Considerado um dos maiores atores da língua espanhola, Luppi retornou ao teatro em 2008, depois de dez anos de afastamento. Foi, segundo diz, reconquistado pelo "toque emocional" da arte sobre os palcos. (LR)

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