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Apanhador Só: disco do quarteto gaúcho ultrapassou a marca de 4 mil downloads em apenas um mês | Rafael Rocha
Apanhador Só: disco do quarteto gaúcho ultrapassou a marca de 4 mil downloads em apenas um mês| Foto: Rafael Rocha

Opinião

Leveza e simplicidade

Um peso certeiro é o que tem o disco do Apanhador Só. Embora não se saiba se tende a copo meio cheio ou meio vazio, o trabalho resultante do tempo em estúdio serviu principalmente para selar as características já vistas da banda em shows ao vivo.

O "O Rei e o Zé" revela a delicadeza da voz de Kumpinski, que sobressai ao ruído de um projetor super-8. "Pouco Importa" traz guitarras incisivas, mas o grande feito da singela música de pouco mais de dois minutos é brincar com o escapismo ao propor uma história na qual alguém quer mandar uma mensagem em uma garrafa – mesmo que esse alguém não saiba escrever e more em uma cidade sem mar.

"Não é o prédio que tá caindo, são as nuvens que tão passando", canta Alexandre em "Prédio". Aí os exageros nos gerúndios são compensados pelo arranjo, simples e delicado. A já conhecida "Maria Augusta" é hit pronto, "Baião-de-Vira-Mundo" é um experimental rock-tango, enquanto "Vila do 1/2 Dia" traduz a essência da banda: sob levada empolgante – há "laiás laiás" despreocupados – que lembra os momentos mais animados de Los Hermanos, Kumpinski chora suas pitangas. "A coisa tá ficando preta. O céu já vai perdendo o azul." Deliciosa contradição, cantada na segunda pessoa do singular. GGG (CC)

  • Banda Gentileza em show em São Paulo: tocar em novas cidades é o objetivo atual

Flashback: no dia 29 de agosto de 2007, as duas bandas que sobem ao palco do James na noite deste domingo se esbarravam pela primeira vez. O encontro foi no extinto Porão Rock Club, em Curitiba, dentro do projeto Gentileza convida, promovido pela banda curitibana. Em comum, o pouco tempo de estrada dos grupos – o paranaense hoje tem cinco anos e o gaúcho apenas quatro – e os EPs que carregavam debaixo do braço: Embrulho pra Levar, gravado pelos guris; e Heitor e Banda Gentileza ao Vivo na Grande Garagem que Grava Vol. 2, cunhado pelos piás.

Quase três anos depois, os grupos voltam a se encontrar. O quarteto gaúcho e o sexteto paranaense agora têm mais experiência, algumas mudanças na formação e o principal: dois discos independentes que causaram burburinho na crítica especializada. Banda Gentileza, produzido por Plínio Profeta e lançado em 2009, e Apanhador Só, assinado por Marcelo Fruet, que contabiliza mais de 4 mil downloads desde o lançamento em 11 de abril.

"Foi sensacional. Havia um público bacana que estava doido para ver uma banda que tinha uma bicicleta entre os instrumentos. Foi o nosso primeiro contato e já parecíamos velhos amigos", relembra Heitor Humberto, vocalista da trupe paranaense.

A bicicleta – na verdade, uma roda adaptada em um triciclo infantil – hoje é o principal símbolo da banda gaúcha e serve como link criativo para ex­­pandir o universo de semelhanças entre os grupos, que primam pela canção trabalhada e pela mistura de gêneros.

À época, a Banda Gentileza utilizava uma tábua de lavar roupas como percussão alternativa em uma de suas músicas. A Apanhador Só, além da bicicleta, trabalhou nos estúdios também com furadeira, grelha de churrasco, pato de borracha e um projetor super-8.

"São detalhes que dão textura e atmosfera para a música", justifica Alexandre Kumpinski, vocalista, guitarrista e principal compositor da banda gaúcha. O nome do quarteto remete tanto a O Apanhador no Campo de Centeio, livro mais famoso de J.D. Salinger, quanto à música "Marinheiro Só", de Caetano Veloso. E aí há ótimas dicas para compreender melhor as 13 faixas presentes no disco recém-lançado e continuar a comparação com os curitibanos.

Se o trunfo dos paranaenses foi misturar estilos com coerência e desatar possíveis exageros tendo a palavra como fio condutor, o dos gaúchos foi criar canções palatáveis, embora não simplórias, se baseando também em boas letras – uma espécie de filosofia mundana. Isso sem esquecer da terra de onde eles vêm, historicamente ligada a um rock mais cru e tradicionalista.

"Tudo acontece naturalmente. Não nos podamos e não definimos previamente o que vamos fazer", conta o vocalista, que ouve de igual para igual The Strokes e Chico Buarque. "Conheci a Banda Gentileza e percebi a energia boa que vinha dela. Temos em comum essa liberdade musical, eles são uma banda que também trabalham com canções e misturam ritmos", destaca o músico. Questionado sobre o mesmo assunto, Heitor Humberto, confirmando a sintonia, tem praticamente a mesma resposta.

Presente

Com uma mudança definida por Humberto como "tranquila" em relação à formação que gravou o disco – o guitarrista Lucas Lara substituiu Emílio Mercuri –, a Banda Gentileza se prepara para uma nova empreitada. "O objetivo agora é fazer um clipe e tocar em cidades nas quais ainda não tocamos", diz o músico.

E, como criança que acaba de ganhar uma bicicleta, os gaúchos se dizem "contentíssimos" com o momento da banda. "Não esperávamos que fosse tão bem recebido. É emocionante e mportante para nós, talvez o mais bonito da nossa trajetória", comenta o vocalista.

Tomando as bandas como boas referências em termos musicais e de empreendedorismo virtual – divulgação e contatos são feitos quase que exclusivamente pela internet – resta a última semelhança entre os grupos: a incerteza quanto ao futuro e à própria independência. "Está tudo meio indefinido. Temos um momento bom artisticamente, mas economicamente ainda não há perspectivas. Então começam os questionamentos de como tornar isso sustentável", aponta Kumpinski.

Enquanto isso, resta aproveitar "o bom momento" hoje à noite, que tem em bicicletas e rimas ricas sua exemplificação quase palpável.

Serviço

Apanhador Só e Banda Gentileza. James Bar (R. Vicente Machado, 894), (41) 3222-1426. Dia 16 às 20h. R$10. Na internet www.myspace.com/bandagentileza, www.myspace.com/apanhador

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