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Quando a pirâmide de vidro de I. M. Pei foi inaugurada no Louvre há mais de 20 anos, muitos disseram que a estrutura de 20 metros de altura destruía a beleza clássica de um dos maiores museus do mundo. Hoje, enquanto as multidões esperam em filas do lado de fora da pirâmide que serve como a principal entrada do Louvre, o que antigamente parecia audacioso é aceito como parte da cidade, tanto quanto a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo.

FOTOS: Veja imagens da ala islâmica do Museu do Louvre

Agora o museu está novamente arriscando a fúria do público ao introduzir a intervenção arquitetônica mais radical desde a pirâmide. Desenhada para abrigar as novas galerias de arte islâmica, ela consiste em espaços interiores em nível térreo e subterrâneo com uma cobertura dourada e ondulante que parece pairar sobre o neoclássico Largo Visconti e o meio da ala sul do Louvre, logo abaixo de uma das mais populares galerias do museu, onde a "Mona Lisa" e as "Bodas de Caná" de Veronese estão em exposição.

Em produção há dez anos, o projeto de US$ 125 milhões, que foi inaugurado há uma semana, foi parcialmente financiado pelo governo francês, junto com o príncipe Alwaleed bin Talal da Arábia Saudita, que deu ao Louvre US$ 20 milhões para as galerias, a maior contribuição monetária já feita ao museu. Algumas empresas contribuíram também, incluindo a companhia de petróleo Total e os governos da Arábia Saudita, Omã, Marrocos, Kuwait e a República do Azerbaijão.

No Largo Visconti, a cobertura dourada começa na altura da cintura nas beiradas e chega até cerca de 7 metros de altura próximo ao centro. À primeira vista, parece frágil o suficiente para ser levada embora por um vento forte, mas, de acordo com a equipe arquitetônica que trabalhou no local, ela pesa 150 toneladas e foi montada a partir de quase 9 mil tubos de aço que formam uma rede interior, sobre a qual repousa uma camada de vidro e, em cima dela, uma superfície de ouro anodizado brilhante.

Esse design habilmente projetado é obra de dois arquitetos, o italiano Mario Bellini e o francês Rudy Ricciotti.

O "véu luminoso" do museu, ou "tapete voador", como também foi chamado, cobre cerca de 2,7 mil metros quadrados de espaço da galeria nos andares térreo e inferiores. As novas galerias, cerca de quatro vezes o tamanho do espaço até então dedicado à arte islâmica no Louvre, abrigam uma coleção que cobre cerca de 1,2 mil anos de história, do século 7 até o 19, e inclui obras de vidro, cerâmica, metalurgia, livros, manuscritos, tecidos e tapetes.

Islã

Sua inauguração ocorreu 10 meses após o Museu Metropolitano de Arte, o Met, em Nova York, introduzir suas novas galerias dedicadas às artes do Islã. O Met, num esforço para evitar definir a coleção somente em termos de religião, escolheu um título longo para os seus espaços – A Arte das Terras Árabes, Turquia, Irã, Ásia Central e Ásia Meridional. O Louvre, por outro lado, tomou a abordagem exatamente oposta, batizando suas galerias simplesmente de Islã.

"Esse é o modo pelo qual o mundo sempre falou do Islã, não somente da religião, mas da civilização", diz Sophie Makariou, diretora de arte islâmica do Louvre, insistindo que o nome não é uma hipersimplificação. "Nós queríamos contar a história desse povo. É tão complicada quanto os tecidos. Há muitos fios diferentes e muitos tipos diferentes de civilizações que construíram esse mundo."

Enquanto a instalação do Met foi feita com foco na religião e não na civilização, a do Louvre organizou seus objetos cronologicamente. A coleção é derivada tanto do acervo do próprio Louvre, de cerca de 14 mil obras de arte e artefatos representando o alcance do mundo islâmico, da Espanha à Índia, quanto da coleção do Musée des Arts Decoratifs, que contribuiu com 3,5 mil obras em empréstimo permanente.

Manuscritos delicados e objetos têxteis estão em exposição nas galerias no andar inferior, onde não há luz natural, enquanto as vitrines acima expõem esculturas de pedra, obras de vidro e metal (esses gabinetes de vidro em ângulos radicais – obra do arquiteto e designer de museus Renaud Pierard – permitem que a arte e os artefatos sejam vistos de todos os ângulos.).

Coleção

Quando Henri Loyrette, o diretor do Louvre, chegou no museu em 2001, não havia nem mesmo um departamento separado de arte islâmica. Isso, apesar do Louvre ser dono do que chama "uma das mais ricas coleções de arte islâmica do mundo" – um tesouro grande e variado o suficiente para facilmente garantir um museu próprio. Ainda assim, disse recentemente Loyrette, ele não queria criar um museu separado para as obras islâmicas, porque elas estão "tão intimamente ligadas à nossa coleção e à arte ocidental, que sentiríamos muita falta delas se não fossem parte do Louvre".

Sendo já o museu mais popular do mundo, com cerca de 9 milhões de visitantes só no ano passado, ele está a caminho de se tornar ainda mais popular, disse Loyrette. "Estivemos sempre abertos ao mundo, e, hoje, ao passo em que nossa visitação continua a crescer, nossos visitantes estão criando cada vez mais interesse pelo mundo islâmico. Mas muitas pessoas não sabem nada sobre ele, e é importante mostrar a elas a face luminosa dessa civilização."

A coleção islâmica inclui objetos inestimáveis que estiveram em exposição no Louvre há anos, como uma vasilha de metal complexamente ornamentada do século 14 do Oriente Médio, conhecida como o Batistério de São Luís, tigelas otomanas de jade que pertenceram a Luís IV e um jarro de cristal de rocha do Egito do começo do século 11 da abadia real de São Dinis.

Mas agora haverá dúzias de obras de arte e objetos que não foram expostos até então. Um dos mais intrigantes, e que deu início a um dos maiores desafios do projeto, foi o grupo de 3 mil azulejos dos séculos 16 e 17 do Império Otomano que estão guardados desde a década de 1970. Foi um quebra-cabeças gigante que levou mais de 7 anos para ser completado.

Também extremamente complicado de ser criado – ou recriado – foi o Pórtico Mameluco, um conjunto de cerca de 300 pedras que formavam a abóbada e as paredes de um vestíbulo que foi lar de um governante da dinastia mameluca egípcia no Cairo no final do século 15. As pedras foram retiradas do depósito e enviadas ao norte até Paris, e o portal foi recriado a partir dos desenhos. Pesando 5 toneladas, ele ilustra as técnicas de construção que foram usadas na época, bem como o estilo da decoração.

Tradução: Adriano Scandolara.

Fotos da ala islâmica do Museu do Louvre

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