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César Almeida dirige e encena espetáculo em que canta a perda do companheiro | Divulgação
César Almeida dirige e encena espetáculo em que canta a perda do companheiro| Foto: Divulgação

A ousadia e a polêmica são características da produção do diretor teatral César Almeida. No Festival de Curitiba deste ano, ele comemorou os 25 anos de sua companhia, a Rainha de 2 Cabeças, com a estreia da peça O Crime do Padre dos Balões, que parte de um fato real – o sumiço pelos ares de um padre catarinense que se prendeu a balões de gás hélio – para encenar, com humor ferino, um jogo de sedução entre um sacerdote e um adolescente de 14 anos.

A ousadia continua, mas a ironia dá lugar a uma exposição honesta e desconcertante de si mesmo em História de Amor e Leptospirose, que estreia hoje à noite, no Mini-Guaíra. Acostumado a povoar o palco com questões-tabu para muita gente, como o homossexualismo, encenar um espetáculo foi a única maneira que Almeida encontrou para tentar exorcizar um assunto que é tratado temerosamente por ele – e todos nós: a morte.

Nesta montagem que dirige juntamente com Cláudio Fontan, Almeida sobe ao palco para homenagear, com profunda tristeza, um amor que durou 20 anos e que perdeu há apenas seis meses, vítima de leptospirose. Ele ainda está chocado pela ausência inesperada de seu companheiro. "A gente sabe que esta é uma doença grave, mas não acredita que possa ser tão mortal e rápida se não for possível detectá-la a tempo", diz. E alerta para a necessidade de se conscientizar melhor a população sobre os cuidados que se deve tomar para evitá-la.

Quem canta...

Ele diz trechos de textos que escreveu enquanto zelava pelo amigo doente, nos 15 dias em que ele esteve em coma. "São textos de reflexão, que foram brotando da minha necessidade de analisar essa perda. E canta para espantar seus males. "É um canto fúnebre ao estilo cabaré-depoimento", formado por músicas que costumava ouvir com o companheiro, também ator.

Pela própria temática, intensificada por artifícios como vídeos que registram os últimos momentos de vida do amado, Almeida sabe que se trata de uma peça forte. "Tenho até medo de como irei reagir, mas é a forma que encontrei de dar meu adeus e desejar a ele que descanse em paz", diz.

Mas não há apenas dor e luto no espetáculo de uma hora e meia de duração. O sentimento do amor é o que o diretor chama de "bálsamo" responsável por momentos líricos. "A montagem equilibra-se em dois componentes: o amor e a morte, duas coisas que nos interessam. Uma é o alívio da outra", diz.

Almeida, que nunca teve medo de se expor, transforma sua dor em arte como a única maneira que encontrou para viver seu luto. "A morte não proporciona tempo, não há como pedir para esperar nem amenizar a dor. A gente se protege tanto e, de repente, ela surge de modo completamente inesperado e banal. Então, a melhor maneira de enfrentá-la talvez seja encarando-a de frente", diz.

Enquanto encena sua própria intimidade, haverá na plateia quem espelhe na dor do diretor a sua própria. E quem, mesmo sem tê-la vivido, consiga senti-la na pele. "A morte é fonte das nossas inquietações. A gente se preocupa com muitas coisas, preenche nosso tempo para nos distrair desta que é a nossa grande certeza."

O espetáculo tem preparação corporal de Adelvane Néia, arranjos de Beto Leão e vídeos de Rafa Lopes.

Serviço

História de Amor e Leptospirose. Mini-Guaíra (R. Amintas de Barros, s/nº), (41) 3304-7982. Quinta-feira a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e classe artística). Até 21 de junho.

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