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Affonso Beato, um dos nomes mais conceituados da cinematografia brasileira, não pára. Mal acabou de finalizar The Queen, em Londres e Paris, já está em Cartagena, na Colômbia, trabalhando na pré-produção de O Amor nos Tempos do Cólera, o novo filme de Mike Newell (Quatro Casamentos e um Funeral). Em seguida, tem programado um projeto no Brasil, com Vicente Amorim (O Caminho da Nuvens). Por tudo isso, não poderá estar no dia 23 de setembro no Festival de Nova Iorque (New York Film Festival – NYFF), no qual The Queen – fotografado por ele e dirigido por Stephen Frears (Alta Fidelidade) – será o filme de abertura.

O hoje consagrado fotógrafo, que no início de sua carreira, começou se interessando por pintura, acabou desenvolvendo uma paixão pelo cinema e é atualmente um dos profissionais mais requisitados de sua geração. Sua obra envolve filmes com diretores importantes do cinema brasileiro como Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Walter Salles. Seu talento também foi captado por Pedro Almodóvar, com quem fez A Flor do Meu Segredo, Carne Trêmula e Tudo Sobre Minha Mãe. Neste último, segundo declarações do próprio Almodóvar, Beato ajudou a buscar imagens que passassem o amadurecimento temático do filme do cultuado diretor espanhol.

Dividido entre tantos compromissos e lamentando não poder ir a Nova Iorque, Beato encontrou um tempo na sua agenda apertada, para com calma e muita receptividade, conversar por telefone, de Cartagena (Colômbia), com o Caderno G. De início, comemorou a seleção de The Queen para o NYFF – e o status especial de abrir a programação –, uma mostra que conhece e admira.

The Queen procura traçar um retrato da Rainha Elizabeth II e da família real, principalmente naqueles momentos dramáticos que se seguiram à morte da Princesa Diana, quando a soberana e sua família passaram ao público uma quase indiferença ou minimização da tragédia, em contraponto à catarse emocional da população. Elizabeth se refugiou no Castelo Balmoral enquanto os jornais e tablóides britânicos criticavam sua atitude e exigiam uma presença mais próxima de seus súditos, naquele momento de dor coletiva.

Beato explicou quais elementos foram mais importantes para a composição do clima dramático que o roteiro exigia. "Inicialmente, a própria postura de Frears. Além de ser extremamente aberto para a colaboração, ele tem uma excelente bagagem cultural, é um apaixonado pelo teatro e sua passagem pelo cinema tem uma história eclética. Já trabalhou em vários lugares dos Estados Unidos, da Europa, e é também um homem especialmente educado", revela, citando também a satisfação de trabalhar com o diretor de arte Matthew Broderick (homônimo do ator), num entrosamento fundamental para o desenvolvimento do projeto. "Juntos, fomos elaborando toda a concepção necessária, os cenários, as situações, as composições de câmera e luz, enfim o arcabouço para tratar os universos do filme de forma diferenciada", completa. Técnicas diversas

Para o desenvolvimento do roteiro, que narra muitas situações ocorridas naquele conturbado período, Beato teve que utilizar várias formas de filmar e diversos movimentos de câmera, para transpor a tensão do clamor público nas imagens e conseguir reproduzir tais momentos num clima visual dramático. Segundo ele, as coisas não foram muito simples, já que o filme se desloca do palácio real para imagens na televisão, tem cenas em lugares muito diferentes, ora na Escócia, ora em Londres, algumas na França. Isso tudo exigiu a utilização de três tipos de material diferentes. "Nas cenas com a rainha e a família real, eu precisei fotografar de uma maneira mais formal, uma espécie de envelope, utilizando a câmera no tripé, em 35mm. Nas cenas com Tony Blair, optamos por Super 16 e câmera na mão. Nas demais, utilizamos arquivo de tevê para o filme antes e depois do acidente", lembra.

Entre tantas seqüências – nas quais o trabalho do diretor de fotografia é inegavelmente decisivo para o sucesso ou o fracasso de um filme –, Beato, após manifestar uma indecisão inicial, destacou uma das cenas que mais lhe agradaram: "Ela começa com a Rainha passeando com seus cachorros no Castelo Balmoral na Escócia; depois, ela entra na cozinha junto com os cachorros. Enquanto isso, Blair está em seu gabinete e liga para ela, que atende a ligação na cozinha, sentada à mesa, no meio de panelas e vegetais. É um momento em que ela se despoja da arrogância de sua realeza e sente que precisa dar ouvidos ao primeiro ministro", afirma o fotógrafo, elogiando o excelente desempenho da atriz Helen Mirren, que interpreta a soberana britânica.

Ao final, Beato antecipou detalhes sobre seu novo projeto com Amorim, informando que se chamará Good e que se passará numa Berlim pré-nazista. "Mas agora, estou completamente voltado para O Amor nos Tempos do Cólera, cujas filmagens devem começar em 10 de setembro. E há ainda uma possibilidade de que The Queen passe no Festival de Veneza, mas ainda não está confirmado. Se acontecer, avisarei", conclui, com a atenção e gentileza de sempre.

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