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João Evangelista, que pintou as telas África e Prece para falar sobre a mutilação genital feminina, vai expor as obras na Alemanha | Henry Milleo/Gazeta do Povo
João Evangelista, que pintou as telas África e Prece para falar sobre a mutilação genital feminina, vai expor as obras na Alemanha| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

"A mulher de hoje tem muito mais poder e domínio sobre as coisas. Mesmo assim, várias situações ainda são comuns, como o fato de elas ganharem menos e acumularem tarefas. São coisas que afligem a alma delas."

João Evangelista de Souza, artista plástico.

Hoje, o artista plástico mineiro João Evangelista de Souza, radicado em Curitiba há pouco mais de um ano, embarca para a Alemanha para um dos momentos mais representativos de sua carreira: vai expor na próxima sexta-feira duas telas que têm como tema a mutilação genital feminina, prática em diversos países do mundo. A exposição It’s My Body (É o Meu Corpo), é iniciativa da organização não governamental With Heart Against FGM, e vai reunir diversos artistas do mundo. Todo o dinheiro arrecadado com a venda dos trabalhos será revertido para a ONG.

Evangelista, publicitário de formação e documentarista, que concilia a arte com os documentários que realiza especificamente para o setor de aviação, trabalha com o tema mulher desde o início de sua carreira, há cerca de 15 anos. Tudo começou na observação do cotidiano de sua avó, Nathalina, que o criou. "A mulher cada vez mais agrega mais atividades. Percebi que minha avó trabalhava que nem louca e não era reconhecida pelo o que fazia. É um problema comum a todas as mulheres, seja qual for a classe social ou o poder", acredita ele.

O convite para ir à Alemanha surgiu pelas redes sociais, já que a curadora da mostra já tinha ouvido falar de seu trabalho e viu algumas fotografias das obras na página do Facebook do artista. Antes de pintar as obras África e Prece no ano passado, depois da solicitação da curadora, Evangelista resolveu pesquisar mais sobre o assunto mutilação. Se deparou com a questão cultural – afinal, há correntes, segundo ele, que dizem que a prática de amputar o clitóris da mulher para que ela não sinta prazer é algo cultural – portanto, não deveria se defender o contrário. "Depois do convite fiquei muito mais sensível com a causa. Fico chocado com o fato de ser praticado em crianças, que não tem a decisão de escolha. O objetivo da ONG não é impedir radicalmente, mas sim o de conscientizar, de que a mulher tem direito de sentir prazer."

Apesar de trabalhar constantemente com o tema de direitos das mulheres (em seu ateliê há quadros que mostram, por exemplo, a dificuldade da professora na sala de aula e da carrinheira nas ruas), ele diz que luta contra o seu próprio machismo constantemente. "Para mim a mulher é o equilíbrio universal. E ela quem traz as soluções. Mesmo assim, me pego em algumas situações de pensamento machista", conta.

Incentivo

Pela relevância social do assunto, o artista conseguiu um incentivo do Ministério da Cultural (Minc) para custear os gastos com a viagem. A intenção, depois da Alemanha, é tentar ir ao Senegal e realizar pinturas no país abordando o tema.

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