• Carregando...
Imagem do fotógrafo Edson Jansen, morto no ano passado, que retrata uma invasão da PM ao Centro Politécnico da UFPR em 1968. A foto, publicada originalmente no jornal O Estado do Paraná,  foi contemplada com o Prêmio Esso daquele ano | Edson Jansen
Imagem do fotógrafo Edson Jansen, morto no ano passado, que retrata uma invasão da PM ao Centro Politécnico da UFPR em 1968. A foto, publicada originalmente no jornal O Estado do Paraná, foi contemplada com o Prêmio Esso daquele ano| Foto: Edson Jansen

Interatividade

Como você costuma guardar suas fotos e vídeos digitais? Já perdeu algum material importante?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.brAs cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

O descaso com a memória é quase tão associado à cultura brasileira quanto o futebol, o carnaval e a corrupção. Nesta edição do Caderno G Ideias, analisamos a progressiva amnésia audiovisual no Paraná – seja por parte do governo, da iniciativa privada ou do cidadão comum.

O que você costuma fazer com suas fotos e vídeos capturados em celulares ou máquinas digitais? Imprime? Despeja-os em pastas virtuais do seu computador? Armazena-os em CDs, DVDs, pen-drives, HDs externos ou na "nuvem"? Ou se limita a postar o que julga melhor nas redes sociais, enquanto o restante fica esquecido na memória do aparelho? Daqui a 10, 20 ou 30 anos, você ainda será capaz de localizar suas imagens publicadas na internet? Mesmo se tiver conseguido guardar os suportes físicos, terá condições de executar os arquivos ali armazenados na tecnologia que está por vir?

Ou seja: no futuro, quando você quiser mostrar fotografias e vídeos antigos para os seus filhos, netos ou bisnetos, talvez não haja mais qualquer vestígio de como você era e do que fazia em 2013. Na era da hiperexposição e da hiperinformação, ninguém guarda mais nada. Pouquíssimos ainda imprimem fotos, montam álbuns "de verdade" ou colecionam vídeos e discos – e esses abnegados caminham rápida e inexoravelmente rumo à extinção.

Com raras exceções, o mesmo acontece com as instituições públicas e as empresas privadas – que veem seus registros audiovisuais desaparecerem ao longo dos anos. O Museu da Imagem e do Som (MIS), por exemplo, que é o órgão responsável pela conservação e preservação do patrimônio audiovisual no Paraná, há dez anos ocupa uma sede improvisada no Santa Cândida, e nunca teve o seu vasto acervo – aproximadamente 1 milhão de itens entre fotografias, discos, fitas de áudio, filmes e publicações – catalogado.

Só agora uma diminuta parte deste material (cerca de 13 mil itens) vai passar por um processo de conservação preventiva, tratamento de imagem, digitalização e catalogação, graças a um convênio assinado entre a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (Seec) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), no valor de R$ 351 mil.

Na Cinemateca – órgão ligado à Fundação Cultural de Curitiba (FCC), responsável pela preservação do cinema local –, a situação já é melhor. Além de possuir um levantamento preciso do acervo (são 2.272 películas e 1.753 vídeos acondicionados em reserva técnica climatizada), no ano passado a instituição teve um projeto aprovado pela Lei Rouanet, no valor de R$ 1,5 milhão, que vai permitir que parte da coleção seja digitalizada e incluída numa coleção de DVDs, a ser distribuída em escolas da rede pública, bibliotecas e instituições de preservação e pesquisa na área do audiovisual.

As emissoras de televisão sediadas no estado, por outro lado, padecem de falta de memória generalizada – mesmo sendo as maiores produtoras de conteúdo audiovisual desde a década de 1960, seja por meio do jornalismo, da dramaturgia ou das artes e espetáculos.

A maior parte dos registros se perdeu, em virtude das muitas mudanças tecnológicas ocorridas de lá para cá, de práticas equivocadas (como reutilizar as fitas magnéticas), falta de espaço, má conservação, acidentes (água e fogo), desorganização, incompetência ou desleixo puro e simples.

Essa situação gera perdas. Não é possível, por exemplo, encontrar mais do que cinco minutos de imagens das atrações de Mário Vendramel – o "Chacrinha do Paraná", que durante 35 anos comandou programas de auditório de grande sucesso em três emissoras diferentes. Também há pouquíssimos registros do trabalho de âncoras importantes do telejornalismo local, bem como matérias esquecidas em fitas sem a identificação adequada, como a que registrou um dos primeiros concursos de beleza da hoje supermodelo curitibana Isabeli Fontana.

"É a prova de que a gente não dá a importância que a nossa memória, a nossa história e a nossa cultura merecem. Eu mesma quero passar as coisas que tenho em VHS para DVD, mas ainda não fiz nada", admite a jornalista Tatiana Escosteguy, autora do documentário Mário Vendramel – 35 Anos no Ar e ex-repórter da RPC TV.

E agora, não parece uma boa ideia imprimir suas fotos e trocar os álbuns virtuais da internet por aqueles do tempo da vovó, feitos do "pré-­histórico" papel?

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]