Risos e sombras

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Os ventos da crise varreram o Cabaré do 41º Festival Internacional de Londrina – que tem início nesta sexta-feira (5), no norte do estado. Nada do ponto de encontro embalado por grandes nomes da música nacional, que por uma década animou os fins de noite dos espectadores de teatro e outros curiosos.

O corte de 20% dos recursos repassados pelos patrocinadores – entre os quais o maior é a Petrobras – atingiu o evento paralelo, cancelado, e fez com que a direção do festival tivesse de repensar a programação de acordo com seu potencial de captação de verbas. São tempos de vacas magras, entende-se.

Não quer dizer, contudo, que a música foi abolida do evento. A grade principal acolheu-a, no espetáculo solo do cantor e percussionista americano David Moss, conhecido por sua música inventiva, composta ou improvisada. Também a espanhola Fátima Miranda, cujo trabalho compreende numerosas investigações de técnicas vocais, apresentará seu show solo de canto e dança pr.ESENSIAS.

Abertura

Unem-se à variedade de linguagens abarcada nessa edição, em que figuras cômicas de narizes vermelhos são as primeiras a abrir as cortinas do tradicional Teatro Outro Verde, projetado por Villanova Artigas, dando o pontapé inicial ao evento, sexta-feira, às 20h30, com o espetáculo A Noite dos Palhaços Mudos, da Cia. La Mínima. Um fenômeno de público na temporada paulista, arquitetado sobre mote dado pelo cartunista Laerte, e premiado com o Shell de melhor ator para Domingos Montagner. Circo como se fazia antigamente, antes de se tornarem espetáculos impressionantes de alta tecnologia – e sem animais.

Uma hora mais tarde, as intérpretes de Rainha[(s)] – Duas Atrizes em Busca de um Coração entram em cena, completando a programação de abertura. A peça dirigida por Cibele Forjaz, que esteve no Festival de Curitiba, traz Georgette Fadel no papel da rainha Maria Stuart, pelo qual levou também o Shell. A atriz carrega consigo a Londrina outra montagem da qual é diretora: Cem Gramas de Dentes. Texto de Bosco Brasil que coloca dois personagens patéticos em situações trágicas.

Mais uma participante já vista em Curitiba, Inveja dos Anjos é um belíssimo espetáculo sobre a memória realizado pelo grupo Armazém, prata da casa.

A produção paranaense é representada por 14 montagens originadas na cidade do norte do estado, entre as quais se destaca a estreia de Para Acordar os Homens e Adormecer as Crianças, do Ballet de Londrina. E mais as curitibanas Tropeço e E Se..., de Katiane Negrão e Dico Ferreira, dupla dedicada ao teatro de manipulação, que se encontra com uma das companhias na qual se escorou enquanto dava seus primeiros passos, a Cia. Catibrum Teatro de Bonecos, de Minas Gerais, presente com a peça O Cavaleiro da Triste Figura.

A programação nacional conta ainda com o Congresso Internacional do Medo, menos aplaudida entre as montagens do respeitado grupo mineiro Espanca!, e a estreia de Os Figurantes, da Casa Laboratório para as Artes do Teatro, dirigida pelo ator Cacá Carvalho.

Estrangeiras

Em um festival internacional, contudo, as maiores expectativas naturalmente se voltam para as atrações estrangeiras. A Rússia marca presença e, tanto por sua distância maior, quanto pela fama do grupo Teatr Licedei, fundado pelo clown Slava Polunin, gera curiosidade sobre o espetáculo Semianyki (A Família).

Para ouvidos afeitos ao espanhol, uma indicação garantida é La Noche Canta Sus Canciones, direção do argentino Daniel Veronese, sobre o texto do norueguês Jon Fosse. Sua primeira apresentação no Brasil aconteceu em outubro passado, no Porto Alegre em Cena. Trata-se de um retrato hiperrealista e emocionalmente denso de um casal em crise – ele, por não alcançar seu sonho literário; ela, por sentir-se aprisionada à casa que sustenta –, em vias de se desfazer pelo aparecimento de um terceiro personagem. Os problemas de uma família mais numerosa, também em dissolução, ocupam o elenco de La Omisión de La Família Coleman, com os hermanos do Teatro Timbre 4.

Da Espanha, chega Cronica de Jose Agarrotado, obra que se insere na linha do teatro físico. Cuba fornece uma montagem de Madre Coraje, texto em que Brecht pôs na balança os lucros e tragédias de uma guerra. Máscaras e marionetes são sustentadas pelo Studio Théâtre de Stains, francês, a fim de contar a história do príncipe apaixonado pela filha de um camponês.

A italiana Pepe e Stella chega respaldada pela tradição do grupo Teatro Gioco Vita, apontado como um dos responsáveis por renovar o teatro de sombras na Europa. Prestes a completar, em 2010, 40 anos de atividade, emocionam com a história da amizade entre a menina Stella e seu cavalo de circo. Do mesmo país vem o ator Matteo Belli, com o seu Inferno di Dante: uma ambiciosa proposta de guiar o espectador pelos versos da Divina Comédia.