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O gênero da animação é um dos que mais se desenvolve atualmente no cinema mundial, desvinculando-se do rótulo infantil para conquistar também seu espaço entre o público adulto. Mas a área ainda engatinha no Brasil quando se fala em longa-metragem (os curtas têm uma produção constante e muito interessante). São poucos, todos voltados exatamente para as crianças – os filmes da tradicional Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa; O Grilo Feliz, de Walbercy Ribas; e mais recentemente até um longa da Xuxa no formato; o paranaense Paulo Munhoz já tem pronto BRichos, que em breve deve chegar aos cinemas.

Furando essa barreira, o veterano animador gaúcho Otto Guerra está lançando este ano um desenho adulto, Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’N’Roll, longa que estréia hoje em Curitiba. O filme chegou a receber a classificação 18 anos após sua finalização, indicação que foi baixada para 16 anos para o lançamento nos cinemas. A produção, realizada na técnica 2D, é baseada em diversos personagens criados pelo cartunista Angeli, conhecidos do público atual pelas tirinhas publicadas em diversos jornais e das gerações anteriores através da já extinta revista Chiclete com Banana.

Os hippies Wood e Stock dão o tom da divertida história, tentando reviver os tempos da contracultura brasileira dos anos 70, quando se conheceram, época da qual parece nunca terem saído. Mais de 30 anos depois, agora barrigudos e carecas, os amigos lidam com problemas familiares: Lady Jane dá um tempo no casamento com Wood e vai fazer uma viagem transcendental com Rhalah Ricota, deixando o filho careta Overall aos cuidados do marido. Para completar, o pai de Stock morre e ele se muda de mala e cuia para a casa do velho parceiro.

Com a vida parada no marasmo, a dupla hippie recebe a visita iluminada do genial Rauzito (Raul Seixas, dublado pelo cantor e compositor Tom Zé), que os aconselha a remontar sua antiga banda de rock, ao lado do baterista Rampal, o Paranormal. Como o antigo vocalista do grupo havia morrido, o trio escala para comandar os vocais o hilário porquinho Sunshine, que fuma, bebe e berra muito ao microfone. Completam o "elenco" da fita Rê Bordosa (dublada por Rita Lee, que recebeu um controvertido prêmio de atriz coadjuvante no Cine PE pela "interpretação"), os Skrotinhos, Nanico e Meiaoito.

Wood & Stock tem um ritmo lento e pode ser considerado até um pouco tosco se comparado aos mo-dernos desenhos atuais em 3D, cada vez mais cheios de ação para captar a atenção do público. Mas Otto Guerra apresenta um trabalho digno e honesto, feito com muitas dificuldades – foram quase seis anos de produção, lidando com a falta de recursos e até uma negativa do músico Sérgio Dias, que cobrou alto para liberar as músicas dos Mutantes para a trilha do filme, inviabilizando diversas seqüências animadas já preparadas.

A fita foi bem recebida nos festivais que participou (Cine PE, Cine Ceará, Gramado, Anima Mundi), principalmente por ser reverente aos quadrinhos de Angeli e pela anarquia que prega. Otto, que já havia realizado um longa dos caubóis gays Rock & Hudson (em 1994, antecipando O Segredo de Brokeback Mountain), de Adão Iturrusgarai dedica-se agora a dois projetos de animação: Fuga em Ré Menor para Kraunus e Pletskaya, personagens do espetáculo tetral Tangos & Tragédias; e Cidades Piratas, inspirado nos quadrinhos do cartunista Laerte. Com mais sorte e uma boa resposta de público de Wood & Stock, talvez demore bem menos tempo para finalizar os desenhos. GGG1/2

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