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Na semana passada, a administração de George W. Bush sofreu mais uma aguda cutucada do meio musical norte-americano, com o lançamento de Living With War, mais recente álbum de Neil Young, que, da primeira à última faixa, protesta contra a guerra do Iraque – vide o título do disco (na tradução, "vivendo com a guerra") e uma de suas canções, intitulada "Let’s Impeach de President" (algo como "vamos pedir o impeachment do presidente").

Crítico ferrenho do governo americano, Young encontra ecos de seus ideais libertários e pacifistas entre roqueiros de gerações mais recentes, entre eles o Pearl Jam, que, a exemplo de uma de suas maiores referências musicais, também acaba de lançar um disco anti-guerra, o oitavo título de sua discografia e primeiro álbum de estúdio em quatro anos – o último havia sido Riot Act, de 2002.

A capa de fundo azul com um abacate partido ao meio no canto direito já antecipa algumas características de novo álbum, intitulado simplesmente de Pearl Jam: simplicidade, crueza e canções diretas e transparentes.

A banda, que tocou em Curitiba no ano passado e desde seu álbum de estréia Ten (1991) vinha lutando insistentemente para fugir de todo e qualquer padrão comercial – incluindo aí a ausência de videoclipes e uma relação bastante econômica com a imprensa, ao contrário da que mantém com os fãs, por sinal –, parece ter encontrado a medida certa em suas novas composições. Continuam as fortes influências de hard rock setentista (característica que, além do fato de serem da cidade de Seattle, acabou os colocando em meio ao balaio de gatos que foi a cena grunge), as camadas sutis, porém imponentes criadas pelos guitarristas Stone Gossard e Mike McCready e, obviamente, a voz profunda e atormentada de Eddie Vedder, que, desta vez, mostra acordes ainda mais pop e melódicos. Tudo isso de uma maneira natural e coesa que garante ao Pearl Jam um lugar entre as grandes bandas de rock da atualidade.

O single de estréia "World Wide Suicide" – disponibilizado para download gratuito no site da banda uma semana antes de o álbum chegar às lojas – é uma boa mostra do que vem pela frente: rock básico, de riffs fortes e vocais enérgicos, algo que o grupo não fazia com tamanha desenvoltura há tempos. Nas letras, Vedder volta a trabalhar com a narração de histórias, algo presente em grandes hits da banda, como "Alive" e "Jeremy". Porém, em Pearl Jam, as histórias giram em torno do mesmo tema: a guerra e suas conseqüências na vida de cidadãos comuns. "É uma vergonha acordar num mundo cheio de dor/ O que significa quando uma guerra toma conta de tudo?", o vocalista esbraveja em "World Wide Suicide", faixa que atingiu a primeira posição na parada da Billboard em apenas duas semanas, um recorde para a banda. Ao lado do single, iniciando o álbum, estão as também porrradas "Life Wasted" e "Comatose", esta última com riffs dignos da banda australiana AC/DC.

Mas, como em todos os discos do Pearl Jam, também há espaços para belíssimas baladas, aqui representadas pela doce "Parachutes", que remete bastante ao trabalho do mentor Neil Young; o comovente rhythm blues "Come Back", em que Vedder mostra toda sua potência vocálica; e a bela "Inside Job", que encerra o disco prometendo mais esperança perante ao chamado sonho americano, tão desacreditado no restante das faixas. Possivelmente o melhor álbum da banda em (pelo menos) dez anos. GGGG

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