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"A primeira banda dinamarquesa da história musical a se apresentar no David Letterman Show" é uma das atrações internacionais que, ao lado da norte-americana Mercury Rev, devem fazer a festa dos indies de plantão, logo mais, no Curitiba Rock Festival. O vocativo pode soar estranho, mas é assim que Sune Rose Wagner e Sharin Foo, integrantes do The Raveonettes, são conhecidos em sua terra-natal, Copenhague.

Em uma cidade onde não há rádios alternativas e em que só é possível encontrar números atrasados de semanários musicais como o New Musical Express (a situação soa familiar?), Sune e Sharin uniram suas forças musicais para reverter, de alguma forma, o quadro. Nascido em Sonderborg, cidade próxima à fronteira da Alemanha, o pai de Sune era responsável pela presidência do fã-clube local de Elvis Presley. Contagiado pela música de Bob Dylan e decidido a ser um guitarrista graças ao escocês Mark Knopfler, do Dire Straits, Sune mergulhou a fundo nas origens do rock-and-roll americano, encantando-se com Buddy Holly e com os grupos vocais femininos da década de 1960. Seguindo os passos do escritor beatnik Jack Kerouac, o então guitarrista partiu, em 1998, em uma viagem aos EUA – sem carteira de motorista e a bordo de um carro emprestado – com o intuito formar uma banda de rock.

Enquanto isso, a loiraça Sharin Foo, nascida no microscópico vilarejo de Ennened, filha de um guitarrista, descobria, entre os discos do pai, bandas clássicas como Velvet Underground e Beatles. Ainda adolescente, Sharin chegou a estudar canto em um conservatório de música, além de ter passado seis meses na Índia, onde estudou dhrupad (estilo mais antigo da música hindustani) e qawwali (música de devoção dos místicos islâmicos Sufis).

O encontro entre Sune e Sharin deu-se em 2001, em Copenhague, quando Sune já havia composto parte das canções de Whip It On, primeiro registro da dupla, lançado no mesmo ano (e ainda inédito no Brasil). A intenção, desde o início, foi mesclar as sonoridades ingênuas dos anos 50/60 – vide The Ronettes e Buddy Holly – à dissonância melódica de bandas da década de 1990, como The Jesus and Mary Chain, Sonic Youth e Suicide. Além disso, a banda adaptou para seu processo de composição preceitos semelhantes aos adotados pelos cineastas integrantes do movimento Dogma 95, que prega a simplicidade na realização cinematográfica.

As regras "raveonetticas" acabaram sendo as seguintes nas oito músicas que integram o álbum: todas as canções devem ser gravadas na mesma escala – si bemol menor; não são permitidos mais de três acordes por música; todas as faixas devem ter menos de três minutos; não será permitido o uso de chimbal ou prato de condução (bateria) durante a gravação do álbum.

A crueza sonora, junto ao figurino, que prezava pelo uso de peças de couro preto dos pés à cabeça, despertou a atenção da imprensa britânica e norte-americana, espalhando a fama do duo até a Dinamarca, onde, até então, eram taxados de "experimento de mau gosto". Em 2003, Sune e Sharin utilizaram os mesmos preceitos na gravação de seu álbum de estréia, Chain Gang of Love – agora por um grande gravadora, a Columbia – com a diferença da escala musical utilizada nas canções, que, dessa vez, foi de si bemol maior.

Em maio deste ano, sem restrições, os dinamarqueses gravaram Pretty in Black, em que trocaram as distorções pelo reverb em um álbum que reúne um trio de convidados especiais, referências musicais de diferentes épocas para a dupla: Moe Tucker (baterista do Velvet Underground), Ronnie Spector (uma das vocalistas do The Ronettes) e Martin Rev (tecladista do Suicide).

Porém, ao vivo, a limpeza de Pretty in Black não deve ser dominante. Há quem descreva performances recentes do duo como uma combinação de Velvet Underground e Sonic Youth. Nada mal para uma banda saída do mesmo lugar que pariu o irritante Aqua, dono do insuportável hit "Barbie Girl".

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